Correspondências: Carta Final.
Deixo aqui minha carta de despedida. Eu bem poderia dizer que dou cabo de tudo, por tua culpa, por culpa de teu duro coração, pois, fora a causadora de tudo o que me atormenta.
O que devemos fazer, quando na vida, nada mais nos importa? Quando nada há que nos motive e faça continuar lutando? Perdi a esperança na vida, perdi a esperança neste mundo ruim e cheio de opressão, onde não sabemos mais com quem contar, e onde somos traídos sempre; até mesmo por aqueles a quem mais amamos. Como continuar vivendo, se não há um amigo a que se apegar, quando nossa própria família é que nos apunhala vergonhosamente? Sinto-me tão só. É como se nunca tivesse tido família. Não que esteja me referindo a nosso filho, nosso primogênito; este sim, se estivesse aqui, eu teria certeza que me daria razão e estaria a meu lado me dando apoio. Pena que ele more no exterior. No fundo, é até bom para ele, que não ficará sabendo da desalmada mãe que possui, e não se envergonhará por ela ser uma puta, uma meretriz gananciosa; e que por total egoísmo, arrasta a filha para o mesmo caminho, vendendo seu jovem corpo ao primeiro calhorda que lhe acena com vantagens, e pondo ainda, sua alma a perder. Bem, no entanto, a ele – a meu filho – peço perdão por tudo, e espero que venha a me entender.
Sei que esta escolha que faço, é uma escolha covarde, mas levo tanto amargura e ódio em meu coração que não vejo outra saída. Escrevo apenas para que tu saibas que ponho fim a minha vida por tua culpa; pelo desprezo, egoísmo e maldade que carrega em teu coração; por me trair, e te entregar a outros como uma cadela no cio; por tua baixeza.
Que pelo menos, esta minha amaldiçoada carta (e também, este meu amaldiçoado ato!) lhe pese na consciência como a maior causadora de meu infortúnio. Que o remorso lhe atormente pelo resto da vida, e que tu nunca venha a esquecer que quem puxou o gatilho, fui eu, mas quem me matara realmente, foras tu, com teu desprezo e toda tua traição e trapaça que tanto me puniram.
Este castigo e maldição, tenha certeza, também recairá sobre ti, desalmada!
Vejo-te no inferno, quando voltarmos a nos reencontrar,