"Na Incoerência das Eras".
Não quero calcular o que custa
Não quero averiguar se é bom
Não quero averiguar se me ama.
Quero ir com aquela a quem amo”.
Bertold Brechet
Foi através de um acidente, ou melhor, foi através de uma tragédia, que se conheceram. Ele um operário, assalariado, morador da periferia; ela, uma senhorita fina, de uma família abastada, moradora de uma belíssima residência.
O nome de nosso personagem, era José, assim como poderia ser Antonio, Benedito, João, Raimundo, mas era mesmo José – tinha cara de José. A fina senhorita, tinha o nome de Samantha, e Samantha com TH – era costume, naqueles anos, as famílias ricas darem nomes “americanizados” a seus filhos.
A morte de um ente da família de José, foi que os uniu. Velório, tristeza, melancolia. Entretanto, o amor é mesmo sorrateiro: nem pediu licença e foi logo se metendo no meio da conversa. Pouco meses depois, já estavam namorando; mais alguns meses, e já eram noivos.
Quando se casaram, Samantha decidiu ir morar com o marido, na periferia, para espanto geral de sua abastada família – que até então, nada haviam se oposto ao casamento da filha com o operário José. A família não conseguia compreender como ela podia abrir mão da vida confortável que tinha, das mordomias e regalias que sempre tivera.
Contudo, uma das maiores maravilhas da vida, se esconde mesmo no inusitado. Para Samantha bastava viver ao lado de seu amado, de seu doce e inigualável amado. Essa era a vida que desejava para si; não importando se morariam em palácios ou em casebres; se comeriam com talheres de prata ou, simples garfos de inox, de dentes tortos.
Assim ficou decidido. A família, cordata como era, não objetou por muito tempo, e acatou a vontade de Samantha, lamentando apenas de terem que se apartar da filha que moraria em outra cidade, que distava alguns quilômetros.
Os anos se passaram. Tiveram cinco filhos. A vida, apesar de alguns apertos, era boa para eles. Viviam em alegria constante. Quem os visse, durante aqueles anos, teria certeza que naquele lar reinava o amor e a paz. E quem visse Samantha, após ter dado a luz a cinco filhos, nem imaginaria a estirpe que possuía, pois, aquela altura de sua vida, ela não havia feito sofisticadas operações plásticas e estéticas, caríssimos tratamentos dentários; era, isso sim, o retrato de uma respeitável senhora, marcada pelos anos, pelas lutas, onde a vaidade dá lugar ao amor aos filhos, amor a família.
E não se enganem: ela sabia ter feito a escolha certa.
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