Canto de Outono.
Que pregam um caixão nalgum ponto da vida.
Para quem? Ontem era o estio; hoje é outono!
E o estranho rumor soa como a partida".
Baudelaire
As metáforas esquecidas
Por entrelinhas de suas tripas,
Num processo antropofágico
De diletos versos trágicos:
Bebendo o que é concreto,
Sorvendo o que é secreto.
Costurando os rasgos na pele –
Advérbios que a tudo fere –
Cerrando com linhas frouxas
De tantos palavras moucas:
É uma dor reverberante,
É um verbo dorificante.
A dialética em secos ossos,
Esquálida e de baços olhos,
É provérbio, venoso, mortal –
Funérea lembrança outonal –
De mortas línguas escarradas,
Expelindo, muco e palavras.
Doentes de verborrágicas pragas –
Asfixia, vertigens e chagas –
Degradadas, as musas chorosas,
Se imolam em torturas penosas:
Regorjeios de desejos loucos
Receios, de outonos tortos.
Como as folhas secas que caem
São tristes cantigas, que esvaem.
E os olhos (das musas) chorosos,
Escondem seus sonhos formosos.
E em seus estômagos arredios,
Digerem, um novo estio.
Labels: baudelaire, inspiração, poema, poesia