Coletâneas Clandestinas

E é assim que sigo, batendo minha bola, em gramados esburacados, em meio a arquibancadas vazias, driblando as dificuldades e a truculência das defesas adversárias. E quem nunca sonhou fazer um gol no Maracanã?
solucem de dor, que os doentes desesperem,
que os próprios mortos sofram pesadelos,
procurai aclarar os motivos da minha queda
e do meu sonho”.
Rimbaud
Ela estava em prantos, em frangalhos!
Como tudo aquilo pode acontecer com ela?
Tantas pessoas neste mundo e tinha que acontecer, justamente com ela?
Seus pais queriam levá-la para a delegacia, prestar queixa da violência sofrida. Mas ela não queria, ela não precisava de mais esta humilhação. Aline montava toda a cena em sua cabeça: via-se, chegando à delegacia acompanhada pelos pais, fariam a queixa do estupro. Os policias lhe fariam uma eternidade de perguntas: onde ocorrera, como havia sido, o que o bandido tinha feito a ela, como era o estuprador. Veria a dúvida nos olhos dos policias, imaginando se era realmente verdade o que aquela garota dizia, se ela não havia feito algo para facilitar o ato do estuprador, ou provocado a ele. Duvidariam de sua pessoa, de sua decência – pois hoje em dia, pensariam eles, as garotas são todas depravadas mesmo! – Olhariam para ela de cima em baixo, vendo aquela garotinha de quinze anos, mas com corpo de mulher. Olhariam com desprezo, com o olhar de quem quer dizer, “que havia sido bem feito”, e que se fossem eles, fariam com ela a mesma coisa.
Quem mandou nascer tão linda e desejável?
Era o preço a pagar!
Não... ela não iria para a delegacia, para ser julgada por policiais imbecis, nessa merda de cidade pequena que não tem uma delegacia da mulher!
Seus pais insistiam, e ela estava resoluta, nem que lhe matassem ela iria até a delegacia. Ela só queria ir para seu quarto enfiar a cabeça embaixo de seu cobertor e esquecer que o mundo existe, esquecer que as pessoas existem, esquecer que seus pais, e que ela mesma existe!
Como esse mundo pode ser ruim e insuportável para nós. Por mais que nos esforçamos em acreditar que ainda existem coisas boas neste mundo, ele nos agride, nos mostra suas unhas e seus dentes afiados, e toda a maldade que suporta sobre si.
Quinze anos, e sua doçura e pureza arrancada com violência, por um animal, que devoraria o próprio pé, se não houvesse o que comer.
Por fim, os pais tiveram que se render ao desejo da filha. Ficaram em silêncio, enfrentando apenas entre si, sua infelicidade.
E o pior de tudo, é que a miséria e a desgraça são como enormes esferas magnéticas, atraindo a cada vez, mais podridão e imundícies. E Aline estava comprovando esta verdade em sua própria pele e em seu frágil corpo. Alguns meses depois de sofrer o estupro, ela começou a sentir os primeiros sinais de sua gravidez. Desejou morrer com a confirmação do médico ginecologista. Seus pais choravam baixinho, abraçados no escuro do quarto durante a noite, para que a filha não percebesse...
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