Esta é uma campanha que visa incentivar a leitura. É uma prática conhecida como “bookcrossing”, e consiste em deixar um livro “perdido” voluntariamente em algum lugar público, para que as pessoas possam desfrutar de uma leitura inusitada.
Se você encontrou algum livro perdido, digite o código acima e nos diga onde o encontrou. Aproveite e veja por onde o livro já voou...
[leia mais]
DANILO HENRIQUE VICENTE
No. Queixa: 3988/2003
Sexo: Masculino
Data de nascimento: 08/08/1986
Pai: SEBASTIÃO DE JESUS VICENTE
Mãe: CLEIDE RAIMUNDO VICENTE
Desapareceu em: 28/02/2003
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RAFAELA REGINA DE MATOS
No. Queixa: 17481/2007
Sexo: Feminino
Natural: SÃO PAULO
Data de nascimento: 11/07/1993
Pai: JOSE CANDIDO MATOS
Mãe: MARIA JOSE DE MATOS
“Ó, SERES FRACOS DE VONTADE E DE ESPÍRITO! GENTE DE POUCA FÉ! QUE NÃO APRENDEM NEM COM O AMOR, NEM COM A JUSTIÇA; NEM COM O FERRO, NEM COM O FOGO!
POBRES DEGREDADOS FILHOS DE EVA! POSSUIDORES DE CORAÇÕES DE PEDRA, QUE NEM O SANGUE DERRAMADO DE CRISTO, FOI CAPAZ DE TOCAR; QUE NEM OS OLHOS LACRIMOSOS DA VIRGEM MARIA, SÃO CAPAZES DE ENTERNECER.
CONTINUARÃO A VIVER EM GUERRAS, E RANCORES; HÃO DE ENFIM SUCUMBIR A FOME, AOS DESASTRES E HECATOMBES. SE PERDERÃO EM SUA VAIDADE E AMBIÇÃO; QUERERÃO POSSUIR OS CÉUS; QUERERÃO ASSENTAR-SE A MEU LADO MESMO SEM MERECER; MAS DECAIRÃO COMO LÚCIFER; POIS, HOMENS E ANJOS, FORMEI-OS DE TODO LIVRES, E LIVRES SERÃO SEMPRE, MESMO QUE INSANOS”.
Se em dias frios, sem sol, tu sentes a falta do conforto de alguém; erga a cabeça, e lembre-se: haverá ainda muitos dias ensolarados.
+ + + +
Pernas que nos levam, pernas que sustentam. Firme o passo, acerte o rumo.
+ + + +
Não repares muito
àquele que consideras feio,
pois talvez a feiúra verdadeira
esteja dentro de ti mesmo.
+ + + +
Tanto tempo passará, até entendermos, o tempo que desperdiçamos, o tempo todo.
+ + + +
O futuro, quando temido, torna o presente pedante. O presente, quando temido, torna o passado saudoso. Já o passado, quando trás temor, torna o presente e o futuro incertos.
+ + + +
Trágico não é morrer. Trágico não é perder a vida.
Trágico mesmo, é morrer sem ao menos ter vivido.
+ + + +
PS: Solombra é o nome de um livro de poemas de Cecília Meireles, do qual trago gratas lembranças, e por ter entendido a ele como um verdadeiro compêndio de idéias; resolvi regurgitar algumas idéias que andam, andaram, ou ainda andarão, por minha insana cabeça.
Conforme for substituindo as citações da coluna, vou acumulando aqui no post, para que ninguém perca nenhuma. Se não tiverem lido alguma , ou se quiserem ler novamente, é só vir no post.
...Quando Cristo sofria na cruz, mosquitos de toda espécie o rodeavam, atormentando-o. Mas a multidão de mosquitos não via os seus olhos. Uma abelha também voejava em torno de Cristo. “Pica-o”, gritavam os mosquitos para a abelha: “Pica-o e nós nos responsabilizamos”.
“Não posso”, diz a abelha, voando acima da cabeça de Cristo, “Não posso! É um carpinteiro como nós!”.
+ + + +
Isaac Emmanuilovich Bábel (Odessa, 13 de Julho de 1894] — Moscou, 27 de Janeiro de 1940) foi um escritor e jornalista russo.É considerado o primeiro escritor de importância a emergir da Revolução Russa. Sua obra prima é Cavalaria vermelha, um livro de contos baseados na guerra civil, escritos num estilo bastante rico. Misturam, de forma contundente, violência e romantismo , lirismo e barbárie. Sua técnica utiliza a inesperada oposição de imagens, numa das prosas mais vivas já escritas na Rússia. Possuía um grande poder de concisão - alguns de seus contos têm apenas uma página. Seu outro grande livro chama-se Contos de Odessa: divertidas histórias de "gangues" de judeus ambientadas na cidade de Babel. Morreu em 1940. Sua obra completa não chega a preencher mais do que um livro de bolso, porém esta medida é suficiente para reconhecê-lo como um dos melhores escritores do século XX.O livro conhecido em todo o Ocidente como "A Cavalaria Vermelha" foi traduzido diretamente do russo para o português por Aurora Bernardini e Homero F. de Andrade, e recuperou o título original "O Exército de Cavalaria". No Brasil, também foi publicado o livro "Maria", com cinco contos e uma peça de teatro.(Fonte: Wikipédia)
Oh vocês que vem de Mountain View Me presentear com suas visitas, me enchendo de alegria Oh vocês que vem de Mountain View - California Diga-me quem são, recebam meus agradecimentos e respeito.
De terras distantes, sinto vibrar a atenção e, talvez (e somente talvez) o afeto a nós dispensado. Amigos queridos, sintam-se abraçados e sejam sempre muito bem-vindos a família Anjos Insanos, pois este espaço é também a vocês que pertence.
Sinto-me como um marionete, no entanto, um marionete já sem uso.
Quando criança, somos elétricos sentados no colo do Criador, que nos anima e controla com seus finos e invisíveis fios. Ai crescemos. Crescemos e jovens tornamo-nos; ainda presos por fios invisíveis – Daquele que nos controla. Controle este já meio frouxo, já meio cansado de nos carregar ao colo. Somos já, rebeldes, queremos braços e pernas livres. Rotos são nossos panos e almas, algo amarrotado, que mal foi cosido, que muito precisa de cortes e arremates. Ai, tornamo-nos a crescer; já quase não cabemos no colo do Pai. Pai Criador, que, verdadeiramente, cansado de nos carregar – fiandeiro cansado – afrouxa mais suas linhas invisíveis, nos deixando a deriva, e livres, e perdidos, e sem rumo, no comando.
Aflição. Que demente foi esse que deixou em minhas mãos o comando de minha vida? Livre-arbítrio.
Sinto-me como um marionete. Um marionete roto, mal cosido, ainda não acabado (principalmente não acabado); e, veja só, um marionete já sem uso.
Fuçando em meus arquivos e backups (devido a um problema em meu computador, o que acabou me mantendo afastado aqui da homeblog por mais tempo que eu desejaria), acabei me deparando com um e-mail antigo, que enviei a meus amigos, pouco depois de terminar de escrever meu livro (O HOMEM QUE SABIA MENTIR).
Usando de uma cara-de-pau (delavada!), junto ao comunicado de que havia escrito uma obra literária, e de um arquivo digital do livro, fiz o pedido de contribuição (simbólica) para poder publicá-lo. Segue o e-mail na integra:
"Campos do Jordão, 20 de setembro de 2002.
Caríssimos amigos e amigas,
Quis o destino, me arrastar por caminhos dos quais nunca imaginei trilhar, me fez entrar neste mundo de sonhos e fantasias, de glórias e derrotas, onde simples personagens ganham vida, onde simples mortais tornam-se deuses.
Espero que você goste de literatura, pois estou lhe mandando em primeira-mão, meu livro de estréia: "O Homem Que Sabia Mentir", e espero também que você possa lê-lo. Eu pretendo editar o livro o mais rápido possível, e para isso estou pedindo uma contribuição simbólica (sei lá, 5 reais por exemplo); claro que você não tem obrigação nenhuma de contribuir, leia primeiro e depois você poderá decidir se é válido contribuir ou não, pois o mais importante de tudo, é saber que você dispensou um pouco de sua valiosa atenção a este humilde servo que vôs fala.
Ah! Convém salientar que, as primeiras cinquenta pessoas que contribuirem com meu livro, terão o nome publicado no mesmo, caso ele venha a ser publicado (como grandes contribuidores para a realização de um sonho), e os vinte primeiros além de terem o nome publicado no livro receberão também o livro já editado e autografado por mim junto com minha dedicatória e a mais profunda gratidão.
Então caso você venha a contribuir, mande-me um e-mail com o valor, o dia do depósito e o número da agência em que foi realizado o depósito para que eu tenha o controle. E mande-me também seu nome completo e endereço, para que eu possa dar os devidos créditos a esse nobre gesto, e para que possa lhe enviar o livro já editado.
[ Suprimido os dados bancários ]
E caso deseje, envie este e-mail para seus amigos que gostem de ler.
Antecipo meus agradecimentos, por tudo e por sua amizade.
Se vossa pequenez se evidencia diante da imensidão das esferas celestiais, compreendei a silenciosa mensagem que o brilho das estrelas procura transmitir-vos. Lembrai-vos, há leveza no vôo das pequenas aves.
“Há certas coisas no mundo Que eu olho e fico surpreso Uma nuvem carregada Se sustentar com o peso E dentro de um bolo d’água Sair um corisco aceso”. M. Chudu
“O Senhor caminha em meio à tempestade e sobre o vento impetuoso, as nuvens são a poeira de seus pés”. Naum, 1:3
Corre menina, corre! E ela corria. Corria com seus belos cabelos encaracolados, soltos ao vento que começava a soprar mais forte apesar do calor: calor este, que anunciava chuva. Por isso a pressa. Por isso ela corria, e olhava para o céu – que até a pouco era de um azul anil, e que logo teve todo o horizonte tomado por imensa e negra nuvem. Aquela altura, a pressa parecia ser de ambas: nossa querida menina corria tentando fugir da chuva; e aquele imenso bolo d’água avançava veloz, ávido por descarregar todo o peso que suportava, trazendo o rumor de sua fúria no ar.
E relampejou. Sim, relampejou. O frágil coração da menina bateu apressado – tanto pelo susto, quanto pela carreira. Ela temia os xingos de sua mãe se viesse a molhar-se na chuva. Apertou mais o passo, correu mais; no entanto, já estava sem fôlego. Pensou em se esconder da chuva, mesmo já estando bem perto de casa. Pensou, pensou... Só não deixou de correr: sim, continuou correndo. Logo, grossos pingos de chuva começaram a cair. A menina sentiu vontade de chorar: levaria uma bronca danada da mãe. Mas ela não chorou. Que adiantaria chorar agora, era melhor deixar para chorar assim que levasse a bronca, ora! O melhor que podia fazer, era correr.
Indiferente a isso, aquela negra nuvem já tomava conta de quase a metade do firmamento, escurecendo o dia. Os grossos pingos já caiam em maior quantidade, e começavam a molhar os cachos da menina que corria. Os caracóis de seu cabelo, já lhe pesavam mais, e alguns cachos caíam-lhe ao rosto pingando água de chuva. Já podia avistar sua casa mais à frente; faltava pouco. Até que ela não se molhara muito, felizmente, pois ainda corria. E foi assim, correndo, que ela passou pela Dona Catalina, que carregava várias sacolas de supermercado e caminhava apressada, conforme era possível para sua idade. “Lá vem chuva!”, lhe disse Dona Catalina, num comentário corriqueiro. Nossa menina apenas lhe sorriu, estava sem fôlego, tinha certeza que se abrisse a boca, mal sairia voz.
Dessa forma, a única voz que se fez ouvir, foi mesmo da Dona Catalina: “Ô, meu Deus!”, foi o que ela pronunciou. Surpreendida com aquela exclamação a menina voltou seus olhos para trás, e viu Dona Catalina tentando recolher, desajeitada, as coisas que haviam caído da sacola que carregava e que por infelicidade, não resistira e arrebentara, espalhando todo o seu conteúdo pelo chão. Nossa querida menina, hesitou, ainda olhando para trás, pensando em voltar e ajudar a bondosa Dona Catalina. Avistava sua casa, a uns cinqüenta passos corridos, poderia chegar antes da chuva engrossar de vez e se livrar de qualquer tipo de bronca da mãe; e ali, no entanto, logo atrás, estava a querida Dona Catalina, atrapalhada, sem conseguir recolher tudo que caíra ao chão. A menina não pensou muito – foi seu coração que lhe falou mais alto – voltou para ajudar a Dona Catalina. Apanhou diversas latas e pacotes de mantimentos – o máximo que conseguiu carregar – e levou tudo até a varanda da casa de Dona Catalina que já se encontrava apenas alguns metros de onde caíram as coisas. Voltou correndo recolheu nova leva, e por fim, junto ao que Dona Catalina levara, terminaram de carregar tudo. Dona Catalina deu um terno beijo na testa da menina e convidou que entrasse para tomar um chocolate. A garotinha agradeceu e disse que precisava ir para casa, já se despedindo. Dessa forma, deu sua última carreira em meio aos pingos de chuva que já caíam com mais intensidade e molhavam seu vestidinho todo, assim como seus belos cachos. A essa altura, ela já contava os passo: dez passos mais, e já estaria a porta de sua casa. O que ela não contava, era com uma pequena poça de chuva. Tentou até desviar, mas pisou em falso, seus pés escorregaram na lama: estatelou-se na poça. Seu lindo vestidinho ficou todo sujo de lama; seus cabelos encaracolados, empaparam de sujeira.
E ela chorou. Chorou com tristeza, e também de dor. Sem mais tardança, levantou-se chateada, ainda chorando e com o lombo doendo. Caminhou para casa, agora já sem tanta pressa. Sua mãe já lhe esperava a porta. A menina temeu o xingo, temeu a bronca. Ainda mais agora que estava toda suja de lama. Sua mãe lhe observava séria, com as mãos apoiadas nas ancas. A triste menina, que continuava a chorar, olhou pesarosa, já esperando as trovoadas dos xingos de sua mãe. Entretanto, pode comprovar com doçura, que o sol volta sempre a brilhar, mesmo depois de uma forte tempestade. Sua querida mãe ajoelhou-se diante dela, assim que se aproximou, e lhe perguntou se havia se machucado muito, mas com um sorriso tão lindo, tão doce e mavioso, que a menina até esqueceu da dor que sentia pelo tombo, esqueceu até que estava encharcada de lama. Correu então para abraçar sua querida mãe, ainda chorando. Mas agora, chorava de jubilo, pelo carinho e preocupação da mãe – que com certeza, vira seu tombo e lhe abraçou docemente, sem mesmo se importar em se sujar com a lama do vestido da filha.
A menina sentiu tanta alegria, e felicidade tanta, que mal pode descrever.
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"DESEJO UM FELIZ DIA DAS MÃES, A TODAS ESTAS ADORÁVEIS BATALHADORAS, FORTALEZAS DA FAMÍLIA".
“Lembra-se daquela noite, Vassili? Para além da janela, os cavalos relinchavam, e os cossacos gritavam. A selvageria da guerra abria as mandíbulas além da janela, e o Rabino Motale Bratslavsky orava junto à parede leste, afundando os dedos amaciados em seu talete. Quando se descerrou a cortina da Arca, vimos, à luz funérea das velas, os rolos da Tora, em capas de veludo púrpura e seda azul. Curvado sobre a Tora, inanimado, resignado, o belo rosto de Elias, o filho do rabino, último dos príncipes da dinastia”.
Assim, Bábel, nos apresenta o jovem Elias, quando de seu primeiro encontro. E enquanto percorria a Rússia, de trem, esta monstruosa e inconcebível Rússia, que – utilizando de suas palavras – pisoteava com sapatos de líber aos desgraçados da guerra, que como uma multidão de percevejos, assolados pelo tifo e carregando o costumeiro peso da morte, se amontoavam dos dois lados da linha férrea, mendigando migalhas dos soldados. Pois, dentre estes, Babel logo reconhece Elias, o filho do rabino.
Com o coração cortado, e contra todos os regulamentos, fez Elias subir ao carro do trem. Depois de bater com os fracos joelhos, como as de uma velha, ajudado por duas datilógrafas de busto saliente, Elias deixa arrastar pelo chão seu humilhado corpo de homem agonizante e derrotado. Estava vestido com farrapos, com as partes púbicas a mostra. Era observado bobamente pelas duas moças – que também já não serviam mais para nada – e que não paravam de olhar com curiosidade para os órgãos sexuais de Elias, sua virilidade mirrada, os pelos encaracolados e sujos, de um semita destruído.
A tudo isso Babel olhava desconsolado, arrumando os poucos pertences do pobre soldado da monstruosa e inconcebível Rússia. Um melancólico sereno da tarde lavava a poeira dos cabelos de Babel, que perguntou ao jovem miserável que agonizava: – Numa sexta-feira, há quatro meses, Gedali, o velho negociante de roupas, levou-me a casa de seu pai. Mas você, não pertencia ao partido...
– Sim, pertencia ao partido... – respondeu o rapaz, arfando o peito, tremendo de febre. – Mas não podia deixar minha mãe.
– Mas agora, Elias?
– Quando há uma revolução [diga-se, uma guerra], uma mãe é um episódio apenas – ele murmurou, com voz cada vez menos audível. – Chegou-se a letra de meu nome, e a Organização me mandou ao front....
Pouco depois, Elias veio a falecer. O último dos príncipes, sepultado em uma estação qualquer, esquecido.
É assim que Babel nos transmite a triste certeza, de que, na guerra, não há vencedores; e a única glória, a única recompensa e consolo, é morrer – desgraçadamente – como herói.
Tenho a mania de colecionar pedras. Todo tipo de pedras. Sempre que encontro alguma que me chame a atenção (e por muitas vezes, mal sei por que me chamam a atenção), eu as guardo, mas não por muito tempo, pois sou um colecionador estranho: fico com a pedra durante um tempo dentro de meu bolso ou sobre minha mesa de trabalho, por vezes, durante muito tempo dentro de um porta-caneta. No entanto, chega um momento que me enjôo desta pedra – ou quando a descubro guardada, passado um período – me livro dela, como se ela nada me dissesse, ou nunca tivesse me interessado. Pois coleciono estas pedras (agora me recordo) mais para guardar a sensação de algum momento, tipo: pego a pedra e fico a lhe alisar guardando em minha memória a sensação tátil, junto ao sentimento que me dominava naquele certo momento, e para que depois, quando voltar a alisar a pedra, possa me recordar dos sentimentos e sensações que tive naquela oportunidade. Mesmo assim quase nunca me apego a estas pedras por muito tempo, logo as descarto como se nada fossem, lhes trocando nos dias seguintes por outras que descartarei sem remorsos, e depois outra, e outra, e outra... E é assim que coleciono pedras. É assim que coleciono amores; é assim, que coleciono... decepções.
Andei fuçando no site de pesquisa do google e achei muito interessante. tem uma boa funcionalidade. E, vejam só, o que encontrei: temos até uma página de referência a o livro de mestre Côdax; e o mais curioso, é que o livro original utilizado para a digitaslização, é um livro da biblioteca da UNIVERSIDADE DO TEXAS. Muito loco! O homem que sabia mentir, é livro de estudos nos Estados Unidos. (MORAL HEIN MANO!)
“Quero ir com aquela a quem amo. Não quero calcular o que custa Não quero averiguar se é bom Não quero averiguar se me ama. Quero ir com aquela a quem amo”.
Bertold Brechet
Segundo semestre do ano de 1987.
Foi através de um acidente, ou melhor, foi através de uma tragédia, que se conheceram. Ele um operário, assalariado, morador da periferia; ela, uma senhorita fina, de uma família abastada, moradora de uma belíssima residência.
O nome de nosso personagem, era José, assim como poderia ser Antonio, Benedito, João, Raimundo, mas era mesmo José – tinha cara de José. A fina senhorita, tinha o nome de Samantha, e Samantha com TH – era costume, naqueles anos, as famílias ricas darem nomes “americanizados” a seus filhos.
A morte de um ente da família de José, foi que os uniu. Velório, tristeza, melancolia. Entretanto, o amor é mesmo sorrateiro: nem pediu licença e foi logo se metendo no meio da conversa. Pouco meses depois, já estavam namorando; mais alguns meses, e já eram noivos.
Quando se casaram, Samantha decidiu ir morar com o marido, na periferia, para espanto geral de sua abastada família – que até então, nada haviam se oposto ao casamento da filha com o operário José. A família não conseguia compreender como ela podia abrir mão da vida confortável que tinha, das mordomias e regalias que sempre tivera.
Contudo, uma das maiores maravilhas da vida, se esconde mesmo no inusitado. Para Samantha bastava viver ao lado de seu amado, de seu doce e inigualável amado. Essa era a vida que desejava para si; não importando se morariam em palácios ou em casebres; se comeriam com talheres de prata ou, simples garfos de inox, de dentes tortos.
Assim ficou decidido. A família, cordata como era, não objetou por muito tempo, e acatou a vontade de Samantha, lamentando apenas de terem que se apartar da filha que moraria em outra cidade, que distava alguns quilômetros.
Os anos se passaram. Tiveram cinco filhos. A vida, apesar de alguns apertos, era boa para eles. Viviam em alegria constante. Quem os visse, durante aqueles anos, teria certeza que naquele lar reinava o amor e a paz. E quem visse Samantha, após ter dado a luz a cinco filhos, nem imaginaria a estirpe que possuía, pois, aquela altura de sua vida, ela não havia feito sofisticadas operações plásticas e estéticas, caríssimos tratamentos dentários; era, isso sim, o retrato de uma respeitável senhora, marcada pelos anos, pelas lutas, onde a vaidade dá lugar ao amor aos filhos, amor a família. E não se enganem: ela sabia ter feito a escolha certa.
“- Oh! Deus, eu creio em ti, mas me perdoa! Se esta dúvida cruel qual me magoa Me torna ínfimo, desgraçado réu. Ah, entre o medo que o meu ser aterra, Não sei se vivo pra morrer na terra, Não sei se morro p'ra viver no céu!”. Augusto dos Anjos
A tristeza que dominava aquele ser assemelhava-se a uma âncora – presa a seu pescoço por grossos elos metálicos de uma corrente. Havia errado pela vida como um vagabundo sem direção, tal qual carregasse um duro e insuportável fardo de amargura e cansaço. Entregue, via-se réu de uma culpa que não sabia qual, não compreendia qual, poderia ser.
Da ponte onde estava, ouvia apenas o barulho da água que corria veloz por entre as pedras que ele não podia ver na escuridão, mas que sabia estarem ali, bem abaixo de si. A bruma noturna que subia do rio, e que ajudava a gelar a noite, lhe parecia ser um convite a mais ao abandono extremo que pretendia realizar.
Um mergulho. Precisava apenas de um mergulho para dentro do nevoeiro da noite, para por fim a seu cansaço, para, enfim, encontrar a paz. Estava cansado de sua vida cheia de infortúnios e dissabores; cansado de ser assistido apenas pelo azar e pelo mal-agouro. Não queria mais saber de nada. Nada nesta vida lhe dizia mais respeito; nada mais lhe interessava e lhe prendia. Estava livre: liberto de qualquer remorso. Entendia seu desgraçado ato como uma dívida que vinha saldar junto ao mundo. Sabia não ser benquisto por nada e nem ninguém. Era um peso inútil sobre a terra, por onde caminhava errante, causando transtorno, levando descontentamento por onde fosse, fazendo tudo ao contrário, tudo do avesso. Sabia ser um imprestável sem lugar nesta terra; e nada era mais justo do que livrar o mundo deste fardo morto e pútrido que era; pois era assim mesmo que se sentia: já morto – só havia esquecido de se deitar à cova.
Respirou fundo, subiu no peitoril de concreto da ponte, sentiu pela última vez a brisa noturna soprar a névoa gelada em seu rosto, e sem tardar, pendeu o corpo à frente, se lançando ao ar. A queda foi rápida. Já não pensava em mais nada, já não sentia mais nada. Aguardava apenas o infalível encontro com as duras pedras que fendiam as águas do rio.
Porém, o estranho da situação, foi ele sentir seu corpo desacelerar, como se algo estivesse impedindo sua queda, suportando seu peso no ar. Era como se as brumas que se desprendiam do rio, de tão densas, estivessem suportando seu corpo, desacelerando a queda. Sentiu que tocaria o rio a qualquer momento, mas sem velocidade alguma.
Quando tocou a água – e as pedras – perdeu os sentidos. Sentiu-se em paz.
* * *
Assim que abriu os olhos, uma forte luz feriu-lhe a retina. Aos poucos, e com muito custo, foi se acostumando com aquela nova claridade, e passou a estudar o ambiente. Notou que aquela forte luz, vinha de um ponto no horizonte, não muito alto. Um denso nevoeiro preenchia o ar, tornando a luz de um aspecto leitoso, quase líquido. Ainda atordoado, ouviu o barulho de água, de um rio. Não compreendeu direito que lugar era aquele; entendeu apenas que aquela luz que vinha sobre sua cabeça era uma luz divina, vinda do além. Mesmo assim, aquele cenário, pareceu-lhe fantasmagórico. Só identificou o local em que estava, quando notou o vulto da ponte de onde pulara – entre ele e a luz que vinha por sobre a ponte – durante uma breve brecha no nevoeiro. Foi quando ouviu alguém tossir. Voltou rápido sua cabeça na direção de onde vinha a tosse, e sobressaltou-se com a presença de um individuo que estava de costas para ele.
– Quem é você? – perguntou ao estranho, que nada respondeu e que continuava tossindo.
– Quem é você? – o rapaz tornou a perguntar, enquanto examinava ao outro.
Notou que este estava molhado. Vestia uma roupa branca, e – surpreso – notou que de suas costas, saiam duas asas brancas de alvas penas, e que também estavam encharcadas. Seu coração bateu apressado. Estava diante de um anjo, não muito robusto, mas tinha certeza que era um anjo. Hipnotizado, e temeroso, foi se aproximando lentamente daquele anjos. Só estacou quando o anjo lhe falou: – Sim, você esta certo. Sou um anjo. Sou seu anjo da guarda.
Perplexo, e sem saber ao certo o que dizer, o rapaz indagou: – Então... quer dizer... que eu estou morto? E você veio aqui... me recepcionar... me conduzir?
Silêncio. Fez-se um breve silêncio, até que o anjo respondesse: – Não. Você ainda não está morto.
– Mas como? – ele indagou, sem compreender o que ocorria.
– Você está apenas desacordado. Fora de seu corpo, apenas, temporariamente – o anjo respondeu. – Quando você se lançou da ponte eu o segurei, tentando suportá-lo no ar. Todavia não consegui impedir que caísse no rio e se chocasse nas pedras. Tive que lhe tirar de dentro das águas. Mesmo assim, não se preocupe: o ferimento foi leve.
– Mas... mas, por que você me impediu? Por que não deixou que morresse? – assim falou o rapaz, e tocou de leve no ombro do anjo. Sentiu um violento choque percorrer-lhe todo. Recuo assombrado.
– Não me toque! Pode lhe custar caro! – o anjo respondeu, com irritação, e virando o rosto apenas de perfil, fitando o rapaz. – Você não morreu por que ainda não era sua hora! Você tem muito ainda que viver!
Quando o rapaz fitou os olhos do anjo, amedrontou-se. O olho de seu anjo da guarda brilhava como um pequeno sol azulado. – Como não era minha hora? – ele perguntou vacilante e meio cabisbaixo. – Não suporto mais viver. Viver me amedronta tanto! E como não era minha hora... se nunca... nunca me senti realmente vivo... Como?
– Você não entende; não pode compreender. Há sempre algo a se realizar na vida; há sempre algo divino, a se realizar em vida. E é por isso que estou aqui. Vim em seu auxílio, vim lhe abrir os olhos.
Assim falou o anjo da guarda, e logo se pôs de pé. Virou-se na direção do rapaz e começou a caminhar na direção deste.
No entanto, para assombro e revolta do rapaz, ele notou que seu anjo da guarda era coxo, mancava de uma perna – e pior que isto – era também vesgo.
Constatando estes fatos, o pobre rapaz lançou-se ao chão e passou a socar a testa nos pedregulhos do solo, em lamúria, e lamentando em choro, entregue a seu desespero.
– Veja só, como desgraçado sou! – falou o rapaz, elevando agora os braços, e voltando sua face encharcada de lágrimas aos céus. – É por isso que em minha vida toda, tudo acontece ao contrário! e tudo me vai caminhando torto! Veja isso, meu Senhor! Como suportar e enfrentar a vida, se meu próprio anjo da guarda é coxo e vesgo! Se meu próprio anjo da guarda é um anjo torto?! Como, meu Senhor... Como?!
Você... sentado em um restaurante grã-fino. Nas ruas: frio, muito frio. Na calçada: mendigos; um casal de mendigos. Reviram lixeiras atrás de lixo reciclável. Súbito, olham para dentro do restaurante. Seus olhos cruzam com os olhos esfomeados destes. Você sente pena, uma vontade tremenda de levar-lhes um prato de comida; contudo, um pudor besta lhe impede. Súbito, um grupo de jovens, saem do bar deste restaurante: embriagados. Bagunçam, fazem arruaça. Assim que param na calçada, notam a presença do casal de mendigos fuçando nas lixeiras. Alterados pelo álcool, resolvem sarrear com os mendigos. Cercam o casal, espalham o lixo que estes haviam recolhido, fazem-lhes caretas, reviram suas roupas puídas, constrangendo a estes. Indignado, você usa seu telefone móvel e liga para a polícia, explicando o ocorrido. Por sorte, parecia haver uma viatura ali por perto, logo se vê o carro encostando. Os jovens se assustam e estacam, parados, como se não estivessem fazendo nada. Os policiais – eram dois – descem da viatura, e para indignação sua, vão rápido em direção ao casal de mendigos. Tratam a eles com agressividade, mandando que circulem, que saiam dali. Não sem antes lhes dar pescoções, tapas na nuca, e até, coturnadas. Você, completamente, indignado, se pergunta: “Que mundo é este!”.
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Nota: [1]Avançam os estandartes do rei do Inferno.
Desejo a todos que tenham as melhores festas de fim de ano de suas vidas; carnavais esplendidos; e felicidades sempre, junto aos amigos, família e amores, no ano que se iniciará.
E que o bom velhinho traga muitas (mas muitas mesmo!) pirarucus azuisinhas para todos.
Queria poder abraçar um por um, cada leitor, deste meu pequeno espaço neste mega cyber-espaço.
A força do texto de Isaac Bábel, por vezes, nos agride: tão forte, tão áspera, tão lírica. E o que dizer de sua descrição – de um sentimentalismo férreo, urgente, amargo e triste – do cemitério de uma pequena cidade judia, Kozin, localizada nas planícies cobertas de ervas daninhas da Volínia:
“Pedras tumulares cinzentas, esculpidas, com inscrições de trezentos anos. Altos-relevos talhados no granito: cordeiros e peixes pintados sobre um crânio, e rabinos de gorros de peliça, rabinos com os magros rins cingidos por cintos de couro. Abaixo das faces sem olhos, a linha das barbas caracoladas esculpidas em pedra.
A um lado, sob um carvalho atingido por um raio, fica a cripta onde jaz o rabino Azrael, morto pelos cossacos de Bogdan Khmelnitsky. Quatro gerações jazem enterradas nesta cripta, uma abóbada tão baixa quanto a morada de um carregador de água; a pedra tumular onde cresce a hera fala deles com a eloqüência de uma prece de beduíno.
‘Azrael, filho de Ananias, porta-voz de Jeová. ‘Elias, filho de Azrael, o cérebro que lutou sozinho contra o ouvido. ‘Wolff, filho de Azrael, príncipe arrebatado a Tora, em sua décima nona primavera. ‘Judá, filho de Wolff, rabino da Cracóvia e Praga. ‘Oh, morte, oh, cobiçosa, oh, ladra ambiciosa, por que não nos poupa, ao menos uma vez?’.”
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Isaac Emmanuilovich Bábel (Odessa, 13 de Julho de 1894 — Moscou, 27 de Janeiro de 1940) foi um escritor e jornalista russo.É considerado o primeiro escritor de importância a emergir da Revolução Russa. Sua obra prima é Cavalaria vermelha, um livro de contos baseados na guerra civil, escritos num estilo bastante rico. Misturam, de forma contundente, violência e romantismo , lirismo e barbárie. Sua técnica utiliza a inesperada oposição de imagens, numa das prosas mais vivas já escritas na Rússia. Possuía um grande poder de concisão - alguns de seus contos têm apenas uma página. Seu outro grande livro chama-se Contos de Odessa: divertidas histórias de "gangues" de judeus ambientadas na cidade de Babel. Morreu em 1940. Sua obra completa não chega a preencher mais do que um livro de bolso, porém esta medida é suficiente para reconhecê-lo como um dos melhores escritores do século XX.O livro conhecido em todo o Ocidente como "A Cavalaria Vermelha" foi traduzido diretamente do russo para o português por Aurora Bernardini e Homero F. de Andrade, e recuperou o título original "O Exército de Cavalaria". No Brasil, também foi publicado o livro "Maria", com cinco contos e uma peça de teatro. (Fonte: Wikipédia).
Paciência não deve ser negligência, Seja paciente, mas ativo. Doçura não deve ser tolice, Seja doce, mas letal.
Carlos Castañeda
Certo dia, de certo mês, de certo ano 2000.
Conto agora, a história de Simão. Trabalhava em uma colônia de férias. Cidade litorânea. Não era o tipo de serviço que lhe agradava, no entanto, era o que havia conseguido para o momento. Fácil é de se prever que aquele trabalho não lhe trazia satisfação alguma. Contrapondo-se a estes fatos, havia as garotas... (sim, claro! sempre as garotas). Por se localizar em uma cidade litorânea, a colônia de férias recebia sempre grande quantidade de turistas, e dentre estes, grupos de jovens e belas garotas. Quando não estava trabalhando, Simão se encontrava com certa freqüência com muitas destas belas jovens. Rapaz atencioso, educado, e (por que não dizer) sedutor, vez por outro Simão acabava se relacionando com algumas delas. E é ai, que surge Tereza: uma bela e delicada garota de pele alva, cabelos negros, cortados baixinho, sorriso esplendoroso, e um caminhar de leveza anti-gravitacional. Tereza fazia parte de um grupo de turistas da capital do estado, e simpatizou-se de imediato com Simão, com quem passou a flertar, provocadoramente.
Simão trabalhava no período matutino, até o meio da tarde, o que lhe proporcionava boas horas livres. Sendo assim, começou a participar das atividades do grupo de Tereza. O envolvimento dos dois foi inevitável. Passeavam na praia, frequentavam a noite litorânea, boates, bares, restaurantes. Tereza passou a exercer grande fascínio em Simão. Mesmo sem querer assumir um envolvimento maior com ele, Tereza agia dominadoramente, o que incomodava um pouco a Simão. E como nosso amigo era muito carismático e sedutor, foram várias as garotas do grupo de Tereza que passaram a flertar com ele também. Nestas situações, algumas amigas de Tereza brincavam com Simão, dizendo a ele que Tereza não ia gostar nada de saber sobre os flertes, coisa e tal. Simão sorria – um pouco surpreso, um pouco irritado – e respondia que não tinha dona. O fato de Simão ser desejado por outras garotas deixava Tereza enciumada, mas ela fazia questão de não demonstrar, dizia apenas saber que era a ela que Simão estava cativo.
Simão percebeu que havia algumas controvérsias e inimizades naquele grupo de turistas. Inclusive, Tereza não simpatizava nem um pouco com uma garota chamada Jane, uma das mais belas garotas deste grupo. Já Simão, simpatizou-se com Jane, não apenas por sua beleza colossal, mas também por ser ela uma garota muito doce e serena.
Neste meio tempo, Simão sentiu-se agastado com a presença de Tereza, que parecia querer ele sempre por perto, mas não lhe dava a atenção e carinho merecido em contrapartida. Sentiu-se um bobo na mão de Tereza, que hora lhe agarrava, para tê-lo a seus pés; e hora não lhe dava atenção alguma. Tereza parecia querer apenas lhe exibir para os outros, como quem diz: “Vejam, este tolo, ele é meu, faço dele o que bem entender”.
Durante este período, quando não estava junto de Tereza, Simão não deixava de sair e se divertir. A noite litorânea era muito agitada e Simão aproveitava as noites sem peso na consciência. Em certa noite, Simão chegou na boate mais badalada da cidade, e não tardou em avistar Tereza. Sentiu necessidade de ir falar com ela – queira por certa obrigação, pelo envolvimento que havia entre eles; queira por gostar de Tereza, apesar de tudo, e por ela ser linda. Chegando na roda de amigos, Simão cumprimentou a todos, e deu um doce beijo de canto de boca em Tereza, que repeliu a ele. Simão sentiu-se confuso, quis saber o que havia acontecido, pois sabia não ter feito nada de errado. – Me deixa! – foi o que Tereza respondeu. – Que chatice, não enche!
Simão sentiu-se surpreso – abismado, seria o mais correto dizer.
Aquilo foi como uma punhalada no peito de Simão: “Quem esta doida pensa que é?”, ele se indagava. Não pensou duas vezes, afastou-se de Tereza no mesmo momento, com uma vontade louca de lhe cuspir nos pés, tão revoltado estava. Ah...e orgulho como só, Simão resolveu mostrar a Tereza que pouco se importava com ela – o que talvez não fosse verdade –, e aproveitou para curtir adoidado com as garotas que vinham flertando com ele. Dançou colado se esfregando a elas, curtindo seus corpos tenros e perfumados. Beijou muitas delas. Passou quase toda a noite assim, se deliciando com belas garotas que se extasiavam em ver Simão com todo aquele fogo, e que também iam ao deleite. Mesmo assim, conforme se aproximava o final da madrugada, Simão foi sentindo um certo inconformismo. Apesar de tudo, aquela atitude tomada não estava lhe agradando: sentiu-se vazio. Parou, de súbito, como que perdido. A tristeza resolveu lhe abraçar; a angústia apossou-se de seu coração.
Uma roda de garotas – que também pertenciam ao grupo de Tereza – acenaram para Simão, lhe chamando. Talvez tentassem tirá-lo daquela súbita tristeza que lhe era latente em seu rosto, em seu corpo, naquele momento. Talvez mesmo, nem nada tenham percebido, na verdade. O fato é que Simão chegou até a roda de garotas; e Jane, a bela, a colossal Jane, estava entre elas. Passaram a conversar sobre assuntos diversos. Simão mal percebia, mas (parecia já estar tudo combinado), pouco a pouco, as outras garotas da roda foram saindo, uma a uma, até que por um momento, Simão notou estar apenas ele e Jane, juntos e bem próximos. Jane estava encostada em uma parede, com um dos pés apoiado na mesma. Simão, por sua vez, estava bem a sua frente, com o rosto quase colado ao dela; uma das mãos ele apoiava na parede, a meio palmo da delicada orelha de Jane. Quando deu por si, Simão assustou-se com toda aquela proximidade, não sabia o que fazer. Porém, abismado mesmo ele ficou, quando um inevitável beijo, aconteceu. Nos dias subseqüentes, recapitulando aquele momento mágico, Simão teve certeza que Jane havia armado toda aquele estratagema para lhe fisgar.
E foi isso mesmo: Jane desejava Simão, e não fez cerimônia. Ficaram o resto da noite aos beijos e carícias. Que mulher esplendorosa era Jane, farta de carnes, de caricias, de desejo. Para Simão, foi como um alento, foi como um resgate.
Em certo momento os belos amantes encontravam-se sentados em um confortável sofá: Jane sentada no colo de Simão, lhe dando beijocas em sua orelha, pescoço, olhos, boca – toda manhosa, sabedora de seu poder. E como que por maldade do destino, naquele exato momento, enquanto os dois se divertiam risonhos, Tereza passou bem em frente ao sofá, e os viu. Por sobre o ombro de Jane, Simão também avistou Tereza. Por incrível que parece, ele não se sentiu vingado, não se sentiu bem com aquilo – pois, ele estar aos beijos com a maior desafeta de Tereza, parecia sim, ser vingança. Ao invés disso, Simão sentiu-se até desgostoso com aquela situação, e sentiu-se triste – não consigo mesmo, mas triste por Tereza, por contatar que ela sofreria muito ainda na vida, se não modificasse esta sua conduta mesquinha e orgulhosa.
Apesar de tudo, o final da noite não poderia terminar melhor. Embalados pelas loucuras da juventude, pelo desejo febril de seus jovens corpos e seus sonhadores corações, Jane e Simão, voltaram juntos para a colônia de férias; e mais: enquanto Jane rumava para seu apartamento, Simão subiu pela escada de serviço e foi até o apartamento em que Jane se hospedava. Quando bateu a porta, Jane já esperava por ele.
Nem é preciso dizer a fantástica e prazerosa noite que ambos tiveram. Eram os donos da noite, donos e soberanos. Nem se importaram com o perigo de serem descobertos, nem se preocuparam com nada. Importava, isso sim, transformar um ao outro nas pessoas mais felizes de toda a divina criação.
Viraram a noite juntos, dormindo abraçados. Simão só saiu do quarto, quando já era hora dele trabalhar. Nunca em sua vida, trabalhou tão feliz naquela colônia de férias como naquele dia. Antes ainda de sair, Simão notou algo que lhe chamou a atenção. Quando correu seus olhos por uma das duas camas que havia ao lado da cama de Jane, notou aos pés desta, uma mochila aberta com vários pertences, e dentre eles um porta retrato de uma senhora grisalha abraçada a uma bela jovem de pele alva, cabelos negros, cortados baixinho, sorriso esplendoroso. Por uma grande... por uma enorme ironia do destino, aquela jovem abraçada a senhora grisalha, era Tereza. Tereza era uma das garotas que dividia o quarto com Jane. Simão ficou estático por alguns instantes, não podendo crer naquilo. Por fim, procurou não pensar mais neste fato. Escreveu um bilhete, voltou-se para Jane que dormia como um anjo, deu-lhe um leve beijo em seus lábios e deixou sobre o travesseiro que usara, o bilhete que escreveu, com as seguintes palavras:
“Havia em meu frágil peito Um vazio do tamanho de um oceano. Mas um simples brilho de teus olhos Inundou o oceano do meu coração, Enchendo-o de paz, alegria, felicidade e amor; Pois essa é uma noite sem fim... e o mundo... De hoje em diante, a nós pertence”. Simão.
Há uma semente dentro de mim Que algum deus plantou, Cresce no estômago fincando raízes. Temo não saber o que é: ou, quê. Brota, talvez, a própria morte. Talvez apenas um inconformismo Um misto de cisto e vômito De amargura e dor e tristezas.
E se for a vida? (como a morte da antiga, Como o nascer de uma outra). E se me reviro por dentro, Lançando galhos novos e novas folhas Por entre entranhas e pomos pulmões, Varando as veias em veios. Meus dedos são como brotos novos, Ou nada, nada... OU MESMO NADA.
Caso fosse erva daninha, trepadeira qualquer Talvez já tivesse tomado conta de mim, Me transformado em muralha, coberta de verde – Uma dupla perfeita, tipo: araucária e bromélia. Mas nada, digo: NADA MESMO. Me transformo por dentro E sei bem, em quê. Mudo, transmuto, me transformo por dentro. Mudo transmuto em Cedros Vermelhos.
OBS: Poema publicado originalmente no blog "Cedros Vermelhos", de Flávio Circini [http://flaviocircini.blogspot.com], em comemoração ao aniversário do sítio eletrônico.
Recentemente, li o livro "O Baú do Raul Definitivo", sobre o mestre Raulzito (recomendo a todos! compre aqui), e achei fantástico este quadrinho feito por um tal de Baron Draco, ao qual pesquisei na net e não achei nada a respeito. O quadrinho é feito em cima da música "Você", do disco "O dia em que a terra parou". Apreciem.
Parei um pouco hoje Para refletir e pensar Pois me vejo, hoje, Sem saber por onde andar E buscar, e lutar e sonhar...
Me sinto um cara estranho Procurando sempre um par Vivendo em um mundo estranho Sem saber com quem contar... E dançar, e lutar e sonhar...
Sonhar com quê? Lutar pelo o quê? E buscar, e dançar? Dançar com quem? Buscar alguém? E lutar? E sonhar?
Sonhei um pouco, hoje, Com um mundo melhor O céu está claro hoje E eu pensei em meu amor... E em dançar, em lutar, em sonhar...
Sonhar com quê? Lutar pelo o quê? E buscar, e dançar? Dançar com quem? Buscar alguém? E lutar, e sonhar?
Como pôde ela hoje, Tocar em minha face? E gostar de mim, hoje, Se tenho, uns pés, de Portinari?
composição de S.C.
Sobre a música: Conseqüência de uma ressaca monstro ao despertar. Imagine a cena: A cabeça latejando, a boca seca, o estômago a revelia; no entanto, para compensar, a lembrança de ter dançado, e estado, com uma maravilhosa garota na noite anterior. Olho então para meus magros e feios pés, descobertos, e penso: “Como pôde ela gostar de mim, se tenho uns pés de Portinari?”.
“Vim da taverna ébrio de impossível; pisando sonhos, beijando vento, falando as pedras, agarrando os ares... – Oh! Deixe-me ir para onde for...” Cecília Meireles.
19 de agosto de 1998.
Mais uma noite?! É claro que eu to afim! Mais uma dose?!... Bem, bem... sejamos cidadãos conscientes... No entanto, quando quatro caras se reúnem para uma noitada sem destino, de farras e badernas, tudo pode acontecer.
E ali estavam os quatro amigos: sem lenço, sem documento. Desciam a serra, rumando a uma já tradicional festa, que se realizava anualmente em uma cidade vizinha, e que atraía pessoas de toda a região. Amigos de longa data, longas farras, já haviam vivido aventuras memoráveis – quando mais importa com quem se divide as experiências vividas do que a própria aventura em si.
O céu era um breu só, perfurado por estrelas. Fazia frio. No rádio do automóvel: rock do bom; o foco da noite: cervejas e mulheres (não necessariamente nesta ordem).
Assim que atingimos o destino, o pelotão zarpou do veículo, e já munidos de latas de cerveja fomos dar uma volta, em reconhecimento do terreno, batendo em busca de pontos estratégicos para o ataque ao alvo (ou seja, as mulheres).
Vez por outra, testávamos nossas miras e táticas em algumas belas garotas que nos circundavam, rendendo boas risadas, foras e podadas destas. Dentre nós, o mais cara de pau era o amigo Joe, que se ria de tudo.
Após várias latas, nos encontramos desprovidos de nossa guarnição de cerveja, e já bem alegres, decidimos rumar sem tardança para um bar, tomar mais uma gelada. Sentamo-nos a uma mesa e pedimos cerveja, que logo foi derramada em nossos copos. Não sei qual dos quatro notou primeiro, o que importa é que logo notamos um grupo de garotas, sentado não muito distante de nossa mesa. Perdemos um bom tempo discutindo quem de nós tentaria uma aproximação com elas: eram quatro garotas. A demora foi tanta que por um momento pensamos ter desperdiçado a oportunidade de uma aproximação, pois as garotas logo se levantaram, aparentando estarem de saída. Para nossa surpresa, uma delas veio em nossa direção com uma garrafa de cerveja em mãos, e perguntou a nós se não queríamos ficar com aquela garrafa de cerveja, já que elas estavam de saída e ainda havia cerveja na garrafa. Foi a deixa que pedimos a Deus (Oh, Misericordioso!).
Quem disse que deixamos que fossem embora? Não, não deixamos.
O amigo que chamávamos de Dé não perdeu tempo, e propôs àquela bela garota ruiva que tomássemos a cerveja juntos (nosso grupo de rapazes e o grupo dela). Sem dar tempo para a ruiva pensar no assunto, o Dé, o Joe, e nosso outro amigo – apelidado de Science – já foram tratando de pegar seus copos e acompanharam a garota até a mesa dela, onde estava o resto das garotas, me deixando para trás, pois tive que recolher as duas garrafas de cervejas de nossa mesa, mais meu copo.
Neste meio tempo, os três já haviam chegado na mesa das garotas. O primeiro a ser apresentado foi o Dé, que notou logo que uma das garotas era um pouco estranha. Já o porra loca do Joe, foi cumprimentando uma por uma dando beijinhos animados em seus rostos, até que ele chegou na garota estranha e se apresentou: – Olá, Sou o Joe, prazer em te conhecer – ele falou dando também três beijinhos calorosos no rosto da garota. Qual não foi sua surpresa quando ela falou, com uma voz de barítono: – Prazer, meu nome é ADILSON!!!
Joe ficou todo constrangido, por ter dados três beijinhos naquele traveco (traveco não que é pejorativo: transexual, vamos dizer). O Dé e o Science que presenciaram a cena riram muito da cara do Joe, que ficou puto da vida.
Mas seu embaraço logo passou, ele tratou de se sentar ao lado da ruiva que tinha ido até nossa mesa, enquanto os outros dois, trataram de se sentar cada um de um lado da mais lindas das garotas.
Quando chego na mesa, todos já haviam se instalados, sobrando apenas uma cadeira ao lado do traveco (que bons amigos eu possuo não?), mesmo sem ter presenciado a cena do Joe com o ADILSON! – o que me foi contado apenas depois que as garotas foram embora –, assim que pensei em cumprimentar aquela garotona, percebi de cara que aquilo ali era um traveco, e que tinha caído numa cilada, feita, não sei se proposital, pelos malditos dos meus amigos. Constrangido com o fato, sentei-me quieto na cadeira, olhando cismado e meio de lado, para o ADILSON! Sentada na ponta extrema das duas mesas, que foram juntadas, estava a bela ruiva. Do seu lado direito uma outra garota, até que bonitinha, e depois vinha o Science. À seu lado seguia a mais linda das garotas – uma ninfeta maravilhosa: morena de cabelos negros e olhos azuis delicados – , e fechando o cerco a esta, vinha o Dé. Do lado esquerdo da ruiva estavam posicionados o Joe, o ADILSON!, e por fim, este pobre azarado que sou. Desta forma, as conversas e cantadas corriam. Apenas eu me encontrava isolado, tendo que disfarçar para não atrair a atenção do traveco Adilson (digo, transexual. Perdão).
Era assim que seguia aquela noitada, até que, não mais que de repente, a ruiva dá um berro e levanta toda nervosa: – Porra meu! – disse ela. – O cara ta passando a mão na minha coxa!
Era o Joe.
A garota ficou revoltada. O Joe, por sua vez, ria sem parar de tudo, e continuou tentando se achegar a ela, que recuava. – Se afasta de mim! – dizia ela. – Tira suas mão de mim!
– Calma ae gata! – Joe respondia, andando em sua direção, sarcástico. – Qual o problema nisso?
O banzé estava armado. Na mesa, todos riam. A ruiva pediu ajuda a suas amigas; e vendo que o Joe não se conteria – embriagado como estava – o Dé decidiu socorrer a pobre e bela garota ruiva, seguido pelo Science, e pelo ADILSON!. Ficaram na mesa apenas eu, a garota bonitinha, e a bela, a graciosa morena de cabelos negros e olhos azuis da cor do mar.
Oh, confusão abençoada! Era tudo o que eu precisava para ver minha noite salva.
Não pensei em mais nada, tratei de pegar meu copo de cerveja – única e verdadeira companhia que tinha naquela mesa, até então – e fui sentar-me ao lado da radiante moreninha de olhos azuis, que agora estava livre do cerco feito por meus amigos sacanas. Sem perda de tempo, elogiei seus belos olhos, sua beleza, e como quem não quer nada, passei o braço por detrás do encosto de sua cadeira, para manter uma maior aproximação. Enquanto o Joe corria atrás da ruiva, rindo sem parar, e seguido pelos outros, que tentavam impedi-lo, eu me esforçava ao máximo para ganhar a confiança da minha moreninha dos sonhos. Fui um verdadeiro cavalheiro (cafajeste, mas cavalheiro): lhe ofereci minha blusa quando ela reclamou de frio, servi-lhe mais cerveja quando me pediu, e prestava atenção a cada palavra que dizia, sorrindo-lhe sempre. Minha total atenção dispensada a ela, pareceu começar a fazer efeito, pois ela passou a confiar em mim, me presenteando com seus maravilhosos sorrisos angelicais.
Assim foi que não resisti por muito tempo: disse a ela o quanto adoraria dar lhe um beijo. Meu anjo de cabelos negros apenas olhou para baixo, sorrindo ruborizada. Delicadamente, peguei em uma de suas mãos, e quando ela tornou a erguer os olhos, aproximei meus lábios dos dela, que não resistiu.
Não poderei descrever aqui a maravilhosa sensação que tive com aquele beijo. São coisas que nos aquece o coração, o corpo, e a alma. Quando terminou a confusão entre o Joe e a ruiva, todos voltaram à mesa – inclusive a garota bonitinha, que deveria ter se levantado, assim que eu e meu anjinho de cabelos negros e olhos azuis começamos a nos beijar.
Pude ver a surpresa estampada no rosto de meus amigos, ao retornar. Por dentro, era como se eu pudesse dizer a eles: “Estão vendo? Não adiantou nada tentarem me sacanear e me passar para trás”.
Pouco depois, saímos do bar e fomos em direção a grande praça onde ficavam as barraquinhas de comes-e-bebes da festa. Eu ia abraçado a minha bela moreninha, trocando beijocas e sorrisos. A ruiva ia com a cara fechada, enquanto meus amigos não paravam de rir, arruaceiros como só, se afastando por momentos de mim e das garotas, e... do ADILSON!
Em certo momento, não me lembro se foi o Science ou o Dé, veio até onde estávamos e me chamou. Meus amigos queriam comprar algo, e como eu estava devendo uma grana a eles me vi obrigado a ceder. Corri de volta até minha querida morena e lhe falei que iria comprar algo com meus amigos, mas que logo voltava. Ela respondeu-me que tudo bem, pois já estavam indo embora, esperavam apenas o motorista do ônibus (logo notei uma concentração de pessoas próximas a roda de nossas garotas, deveriam estar todos esperando o tal do motorista).
Pensei em mandar meus amigos as favas, e ficar ali com ela, até o motorista voltar, aproveitando aqueles últimos momentos de sua companhia. Mas ela insistiu que eu fosse com meus amigos. Vi em seus olhos que ela compreendia a importância da amizade que havia entre nos rapazes: era realmente um anjo. Ela quis me devolver a blusa, no entanto, recusei-me. Falei para não se preocupar, pois voltaria rapidamente, ainda em tempo de lhe dar um ultimo beijo de despedida. Ela me sorriu, como somente ela conseguia, e me envolveu o pescoço com os braços, me oferecendo seus úmidos lábios, para um beijo. Não recusei. Não recusaria nunca.
E assim foi que rumei em auxílio aos amigos. Quando voltei, apressado, ela não estava mais lá. Tolo. Apenas eu não percebi, que para ela, o beijo que me deu antes de me afastar, já era o derradeiro beijo de despedida. Pena eu não ter me precavido antes, poderia ter pedido alguns dados para mantermos contato. Contudo a vida é assim mesmo: feita de encontros e desencontros.
Talvez um dia, quem sabe, ela venha a ler estas mal traçadas linhas.
Eu vi a paisagem colossal De que nunca fiz parte Era um dia mágico O qual eu nunca tinha visto antes
“A primeira vez que vi a garota colossal”.
Tais montanhas brilhando antes de nós Todos os pilares de vida desaparecem ao longe De todas as coisas que preciso dizer, garota Todas estes troncos estão em meu caminho
“A primeira vez que vi a garota colossal”.
Bem, ela está correndo para as colinas novamente Você pode me dizer se ela voltará Ela deve ser a cria da mãe natureza Pois está correndo ao chamado selvagem Ela está falando com as árvores novamente Me dizendo que é uma delas Olhando para o pássaro na árvore Embora ela nunca irá me notar
Oh, meu amor é uma confissão Eu apenas expressei de volta hoje Se eu tivesse um amor para te dar Você ainda assim o jogaria longe
“A primeira vez que vi a garota colossal”.
Você pode se lembrar da primeira vez que nos encontramos? Vivendo juntos em tempos colossais Algumas coisas são dadas sem razão Vivendo juntos em tempos colossais
Sou apenas um cigano com olhos curiosos Contarei segredos a você que te adormecerá Tudo que posso te dar é todo meu amor Essas são as coisas que posso te dar que ficarão
Wolfmother
++++
PS: Colossal, é minha música preferida da banda australiana de hard rock (heavy clássico) Wolfmother, e faz parte do primeiro e, até em então, único disco que lançaram, em 2007. A banda Wolfmother tem um estilo retrô, anos 70, e que remete a Led Zeppelin, Black Sabbath, Deep Purple, Motorhead. Infelizmente, já não existe mais em sua formação original (coisa do show business). Foi o melhor achado (junto a uma banda carioca chamada Matanza) depois que descobri, meio que por acaso, uma estação de rádio chamada Venenosa FM. Muito boa. Rock clássico e alternativo, sem lugar para o jabá (como eles mesmos afirmam). Recomendo a todos que gostam do bom e velho rock’n’roll.
PS 2: Quem sabe eu volte a falar sobre a Venenosa Fm, em um outro post, e Matanza também, por que não...
Quando sentimos o peso de nossos erros sobre as costas quando sentimos a aflitiva pressão em nosso peito por nossos pecados, não há cama macia que nos alivie o corpo, não há cobertor suficiente que nos aqueça a alma. Somos nós mesmos, os nossos maiores verdugos, pois de nossa consciência não há fuga. E ai daquele que ainda tentar resistir e se opor a seu castigo.
Estava ele subindo uma encosta rochosa, muito íngreme, o esforço era grande e cansativo. Plínio suava bastante, e a toda hora, tinha que procurar com cuidado onde apoiar os pés e também suas mãos, pois estava praticamente escalando aquela encosta. Contudo, a difícil subida e o esforço físico estavam lhe agradando.
Plínio continuou subindo até chegar à entrada de uma caverna. A princípio não tinha a menor idéia de onde estava; porém, sentiu uma vontade incrível de entrar naquela caverna. Não estava com medo, sentia até, uma certa satisfação em estar ali; talvez fosse pelo estado em que se encontrava, talvez pela vergonha que lhe dominava todo seu ser, não sabia bem o porquê, mas lhe agradava a idéia de se por caverna adentro.
No fundo era devido à imensa vontade que ele estava de se afastar de tudo e de todos; de se esconder, para que ninguém pudesse ver o mísero e mesquinho ser que ele era; e para que ninguém pudesse descobrir seus erros e as péssimas ações que realizara nos últimos dias. Sentia que um ser tão baixo como ele deveria viver em uma caverna como aquela, longe do mundo, que estaria melhor sem sua podre presença.
E foi com esses sentimentos que Plínio adentrou naquela caverna. Logo na entrada, pode ver a grande quantidade de papoulas que cresciam no local, em meio a outras plantas. Conforme ia entrando notou que uma densa névoa começava a se desprender do chão até quase a altura de seu peito. Era uma pesada névoa, mas que não impedia de se ver através dela. As sombras dominavam todos os cantos, havia apenas um fraco brilho de luz.
As descrições desta caverna, não lhe pareceram estranhas, conhecia aquelas características, já ouvira falar dela, isso era certo. Com a curiosidade aguçada foi se entranhando mais e mais. O silêncio reinava soberano no fundo do rochedo, e só foi sutilmente quebrado, quando mais à frente, Plínio deparou-se com um rio de águas calmas; mal se ouvia o murmúrio das águas que corriam lentas e preguiçosas.
Os olhos de Plínio começaram a pesar, começou a sentir-se sonolento. Foi então, que num rompante, sua memória abriu os braços, lhe sorrindo, acolhendo-o em seu peito. Foi só ai, que Plínio recordou-se daquela mitológica caverna: era a “Gruta do Sono”. Isso explicava as papoulas da entrada, de cujo suco, diziam, a Noite extrai o sono, para espalhá-lo a Terra enegrecida. E aquele rio, de mansas águas murmurantes, era o tão afamado rio Letes.
Seu espanto foi grande, quando ele deparou-se com esse fato, pois ali estava ele, onde o deus Júpiter – ou Zeus – não ousa entrar, onde o galo não canta nunca, nem cão nenhum, nem ganso, nem nenhum outro animal perturba o silêncio. E foi com grande espanto e admiração que Plínio continuou sua exploração àquela mitológica gruta. Aos poucos os sonhos começaram a reunirem-se ao seu redor. Viu sorridentes sonhos infantis, de bochechas rosadas e com o semblante de anjos; jovens sonhos apaixonados de olhinhos brilhantes; sonhos libertinos de sorrisos lascivos; sonhos de conquistas de riquezas e amores; ambiciosos sonhos sorrateiros; sonhos malignos. Eram diversos e variados os tipos de sonhos que ele pode ver no reino de Hipnos, o deus Sono. Sentiu uma imensa vontade de pedir abrigo ao deus Sono, desejou viver imerso no rochedo, por toda a eternidade, para que a civilização nunca mais visse seu rosto, tanto era o constrangimento e a vergonha em que Plínio se encontrava.
Enquanto caminhava, sentia o ar estagnado, ali o tempo não exercia seu poder, não conhecia passagem. E era a tudo isso que Plínio desejava se entregar, e onde pagaria seus pecados. Assim que chegou ao centro da caverna, Plínio viu um grande leito negro, adornado com cortinas de negro ébano. Viu Hipnos, o deus Sono, cochilando preguiçoso, ele revirava-se na cama despreocupado, com suspiros de satisfação.
Plínio quis aproximar-se, para lhe render louvores e lhe pedir abrigo, mas foi impedido por dois de seus ministros: – O que pensas estar fazendo? – indagou em baixa voz, o que se chamava Ícelo.
– Eu... – ia dizendo Plínio, mas foi interrompido pelo outro ministro do deus Sono, de nome Fantasos: – Cala-te! Não ouse pronunciar uma palavra se quer, produzir um ruído que seja, insolente!
Plínio ficou atônito, começou a sentir medo pelo tom ameaçador dos ministros. Nisso, Morfeu, o mais famoso ministro do Sono, também se aproximou. Fez com que Plínio se afastasse do leito do deus Sono, e disse-lhe: – O que pretendes com tamanha insolência?
– Procuro abrigo e refugio; um lugar onde enfiar este meu triste corpo, de onde nunca mais sairei. Sou apenas um vulto, uma sombra sem brilho, sem vida, e não há mundo melhor para eu, do que aqui! – respondeu-lhe Plínio.
– Humanos sujos! Cometem todo tipo de perversidade, cometem os piores pecados e os piores erros, e depois se escondem de medo! Medo de enfrentar as conseqüências de seus atos! Acham que podem enganar ao cego deus Destino; pensam que podem escapar da espada da deusa Têmis, a Justiça! – Morfeu falava-lhe, severamente, enquanto Plínio ouvia tudo calado, pois sabia ter ele razão.
– E tu pobre ser – continuou Morfeu –, achas que é este o quinhão que te cabes? Achas que é isto que o Destino te concederás? Esqueça! Entrego-te (isso sim!) às filhas da Justiça, filhas de Têmis. Tu cometeste péssimas ações, há de pagar por elas. Todos conhecerão e saberão de teus pecados, os olhos da deusa Fama já caíram sobre ti, e suas cem bocas incansáveis, se abrirão aos quatro ventos! Tu procuras as sombras, mas irá ver o sol arder sobre tua fronte, do seu nascer até o seu ocaso. Estará exposta tua vergonha, teus pecados e teus erros! – Vá-te daqui! – completou Morfeu.
Plínio amedrontou-se, e horrorizado, viu-se cercado rapidamente por seus piores pesadelos. Figuras medonhas e ameaçadoras avançavam em sua direção. Viu a fome e a pobreza avançarem de mãos dadas, eram terríveis figuras sem carne, com a pele colada aos ossos, os olhos esbugalhados quase a saltarem de suas órbitas; viu também a velhice, com seu caminhar decrépito, sem dentes, os olhos esbranquiçados e com pouquíssimos fios brancos de cabelo em sua cabeça. Logo atrás vinha a terrível doença, com seu corpo todo murcho, sua pele coberta de feridas, era toda sangue e pus, caminhava arrastando uma perna, e tossia muito, escarrando sangue.
Ele não suportou mais aqueles tormentos. Saiu correndo, caindo pelo caminho, pois suas pernas estavam moles devido aos efeitos soporíferos da Gruta do Sono. Seus pesadelos continuavam perseguindo-o. Plínio, não sem dificuldades, terminou por atingir a saída da gruta, mas ainda podia ouvir os medonhos uivos e as lamúrias de seus pesadelos, que continuavam em seu encalço. Desceu como pode a íngreme encosta da montanha. Ficou cheio de cortes pelo corpo e com a sola dos pés e a palma das mãos, em carne viva.
Chegou esgotado aos pés da montanha: sem fôlego, sem forças, sem alento.
Ficou caído ao chão por longos minutos, lamentando seu triste fado. Quis despertar logo deste terrível e angustiante sonho, mas era tudo em vão. Levantou-se com muito custo e começou a caminhar, arrastando seu corpo, sem rumo. Seus pés feridos causavam-lhe dores tremendas ao caminhar. Viu, logo à frente, um imenso campo de girassóis. Para todos os lados que olhava via-se um mar amarelo de girassóis: e para seu espanto, aqueles não eram girassóis comuns. Em seu estranho sonho, aqueles girassóis possuíam o rosto de pessoas. Cada girassol era como se fosse uma pessoa, com o rosto voltado ao céu, acompanhando o sol em seu trajeto.
E Plínio ficou ainda mais horrorizado, quando viu dentre aqueles girassóis humanos, seu amigo Nelson. Correu então até ele: – Nelson que triste castigo é este meu amigo?
– Este é o castigo dos ímpios e dos impuros! – respondeu-lhe Nelson, com tristeza em seus olhos, e com a cabeça voltada para onde estava o sol.
– Não te entendo Nelson, como isso é possível?
– Este é o castigo para aqueles que tentam esconder seus crimes meu amigo, assim como eu, e também você. O pior castigo para o criminoso que tenta se esconder é ficar exposto aos olhos de todos.
Nisso, outro girassol-humano que estava ao lado de Nelson, interrompeu a conversa: – Não se engane Plínio aqui também é o seu lugar, ao lado de nós todos.
Plínio reconheceu aquela voz e com grande pavor constatou o que já sabia – enquanto aquele girassol, com o rosto do Dagoberto, disparava uma gargalhada demoníaca.
O sangue gelou nas veias de Plínio!
– Você é tão sujo quanto nós, Plínio! – continuou Dagoberto – Querendo ocultar seu crime, sua culpa, querendo se esconder na escuridão. Terá por fim o mesmo castigo que nós: terá que fitar o sol por toda eternidade, para que a luz do Astro-rei, deixe amostra todos os seus crimes e toda sua vergonha!
Em ouvir isso, Plínio começou a sentir algo em suas entranhas. Sentiu os pés grudados ao chão, e viu horrorizado, que os dedos de seus pés se convertiam em raízes e estavam adentrando a terra. Notou que sua pele estava ficando esverdeada, os cabelos transformando-se em pétalas amarelas. Tentou fugir, mas não pode; tentou gritar, mas faltou-lhe voz.
Dagoberto continuava a gargalhar, e sua risada parecia a do próprio Demônio. Os braços de Plínio já não era nada mais que folhas; seu corpo, um longo talo sustentando a grande flor em que se transformara sua cabeça. Logo sentiu uma força incoercível, lhe forçando a voltar sua face para onde estava o sol.
E aquele magnífico sol, que tem o poder de alegrar e de fortalecer ao homem puro, tem também a força de abrasar e queimar a alma do homem impuro e pecador. O que para uns é uma dádiva para outros é um castigo insuportável. Não há nada pior do que a radiante luz do sol, para aqueles que buscam a escuridão.
A luz ofuscou seus olhos. A dor e o desconforto de Plínio era enorme; e enormes eram, seu desespero e sua vergonha.
E era com extremo horror e vergonha que Plínio se via agora, tendo que contemplar a luz do carro do sol por todo o seu trajeto no céu.
Faltou-lhe verdadeiros olhos humanos aquela altura: faltou-lhe lágrimas para chorar...
* * *
Plínio estava encharcado de suor quando despertou (gritando!) deste sonho, ou mais precisamente, deste pesadelo. Sentiu sua alma minúscula, sentiu-se o mais miserável sobre a terra.
“Quantos erros, quanta vergonha!”
Que merda de vida possuía ele, na qual nunca produzira nada de bom, tudo o que punha a mão, transformava-se em lixo. Era a triste e peçonhenta versão do rei Midas – que transformava tudo em ouro – só que nosso atormentado Plínio, transformava tudo em imundícies.
Só despertou por completo, quando sentiu uma mão pousar-lhe em seu ombro.
* * *
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* Capítulo fragmento de um de meus romances já terminado, o qual pretendo publicar futuramente.
Através de uma carta de Nikita Balmachev, Bábel nos conta a história deste. Rumavam para Berlichev, e tiveram o curso do trem interrompido por contrabandistas; nossos piores inimigos, subiram sobre os carros, apinharam-se na linha e todos tinhas sal nas mãos, sacos de mais de noventa quilos. Mas a vitória destes inimigos não durou muito.
A iniciativa dos soldados, que haviam saltado dos vagões, vingou o insulto e reanimou as autoridades. Somente as representantes do sexo feminino permaneceram por ali, com seus sacos de sal. Algumas destas foram alojadas nos vagões, pelos soldados, por compaixão. No nosso carro, o do segundo pelotão, havia também duas pequenas, porém, ao primeiro sinal de partida, chegou uma mulher com aspecto de matrona, e uma criança nos braços. Diz: “Deixem-me subir, jovens cossacos, meus rapazes. Nessas estações temos passado pr grandes dificuldades, durante a guerra. E eu com resta criança nos braços. Preciso me encontrar com meu marido, mas é difícil viajar, nas estradas de ferro. E eu não merecia isso, meus bons cossacos, não lhes parece?”.
“Boa mulher, responde Balmachev, no que o pelotão decidir estará o seu destino”. Volta-se então aos soldados, e explica a eles. Como era? Consentiriam ou não que ela subisse para o carro?
“Deixe-a entrar, exclamaram os homens, Ela não quererá mais se encontrar com seu marido, depois do tratamento que lhe vamos dar”.
“Isso não, Balmachev responde aos homens com toda a urbanidade. Com o meu respeito, membros do pelotão, mas estou admirado dessa grosseria de sua parte. Lembrem-se de suas vidas, que já foram bebês nos braços de suas mães, e assim compreenderão que não devem falar desta maneira”.
Os cossacos discutiram uns com os outros e resolveram deixar a mulher subir, competindo entre si nas atenções que lhe prestavam. “Sente-se aí nesse canto, minha boa mulher, e agasalhe o bebê como fazem todas as mães. Ninguém lhe tocará; lhe disseram, chegará são e salva com é do seu desejo, e contamos com o seu reconhecimento, para dar ao mundo outros homens que nos substituam, porque os velhos já estão ficando mais velhos, e não há muitos jovens por aí.”
Assim viajaram. O bom Balmachev não pregou o olho, passou a noite sem pegar cochilo. E quando já ao tocar da alvorada, quando instigado pelos cossacos, ele se escusou: “Meus respeitos, soldados. Com licença, deixem-me dizer ali duas palavras àquela mulher”. Assim aproximou-se da mulher, tirou-lhe a criança dos braços, rasgou as roupas que a envolviam, e descobriu um bom saco de sal. “Que bebê estranho, camaradas, disse ele, que não precisa mamar, que não suja as fraldas, nem acorda a gente com seu choro...”.
“Perdoem-me cossacos, meus bons rapazes, interrompe a mulher com toda a calma. Não fui eu quem os enganou, e sim a dificuldade que em que me encontro”.
“Balmachev desculpará todas as suas dificuldades, respondeu ele. Mas veja os cossacos, minha boa mulher, os rapazes que a puseram num pedestal, por ser uma mãe que trabalhou pela república. Veja essas duas moças que choram agora, pelo que lhes fizemos pela noite. Pensem nas esposas, que nos trigais de Kuban gastam suas forças sem seus maridos, e eles também sozinhos, vendo-se na dura necessidade de violentar as jovens que encontram. E ninguém lhe tocou, mulher malvada, e era o que merecia. Pense na Rússia, veja a Rússia esmagada de miséria...”.
Após o colóquio, é escusado de dizer que Balmachev atirou a cidadã para fora do carro na plataforma, com o trem em movimento. Porém a mulher era grande e forte, apenas sentou-se, espalhou as saias e começou a dizer desaforos. E vendo aquela mulher ilesa, seguindo seu caminho, e a Rússia em seu redor, prosseguir de uma maneira que nem saberia descrever, os campos sem espigas de milho, as moças ultrajadas, e as multidões de camaradas que vão para o front, do qual poucos voltam, Balmachev teve o ímpeto de saltar do carro e pôr fim à sua vida, ou antes, a dela. Mas os cossacos tiveram pena dele. Disseram: “Liquida-a com teu rifle”.
Assim, Balmachev tirou o seu fiel rifle, preso à parede do carro, e terminou por lavar aquela mancha da face da terra dos trabalhadores, e da república...
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Isaac Emmanuilovich Bábel (Odessa, 13 de Julho de 1894 — Moscou, 27 de Janeiro de 1940) foi um escritor e jornalista russo.É considerado o primeiro escritor de importância a emergir da Revolução Russa. Sua obra prima é Cavalaria vermelha, um livro de contos baseados na guerra civil, escritos num estilo bastante rico. Misturam, de forma contundente, violência e romantismo , lirismo e barbárie. Sua técnica utiliza a inesperada oposição de imagens, numa das prosas mais vivas já escritas na Rússia. Possuía um grande poder de concisão - alguns de seus contos têm apenas uma página. Seu outro grande livro chama-se Contos de Odessa: divertidas histórias de "gangues" de judeus ambientadas na cidade de Babel. Morreu em 1940. Sua obra completa não chega a preencher mais do que um livro de bolso, porém esta medida é suficiente para reconhecê-lo como um dos melhores escritores do século XX.O livro conhecido em todo o Ocidente como "A Cavalaria Vermelha" foi traduzido diretamente do russo para o português por Aurora Bernardini e Homero F. de Andrade, e recuperou o título original "O Exército de Cavalaria". No Brasil, também foi publicado o livro "Maria", com cinco contos e uma peça de teatro. (Fonte: Wikipédia)
“Um pouco de pão, um pouco de água fresca, a sombra de uma árvore e os teus olhos! Nenhum sultão é mais feliz do que eu... Nenhum mendigo é mais triste...”
Omar Káyyám.
Noite Invernal, junho de 2008 .
Sim, era inverno, início de inverno. Noite esplêndida. Madrugada fria. Olhávamos aqueles exércitos de estrelas; o universo girando e expandindo a nosso redor.
Nesta época do ano minha cidade tem o céu limpo, abissal, gigantesco e espantoso, sempre a nos sufocar diante de nossa pequenez. E aquelas estrelas que forravam o céu como nunca, eram sim, exércitos. Talvez exércitos de anjos – ou de deuses – observando a nós, pobres mortais. Quem sabe nos estudando, invejosos, não nos compreendendo, perdido que estamos dentre nossos conflitos sentimentais e emocionais. Mas, esta era uma noite mágica, pois deitada naquele gramado havia uma linda garota a me acompanhar, compartilhando comigo da beleza daquela noite única. Sorríamos abraçados e de mãos dadas. Podia-se até sentir a umidade que exalava da grama verde. No entanto, isto não nos incomodava – já que estávamos prevenidos e bem agasalhados ante a severidade da noite –, muito pelo contrário, aquilo servia para nos unir mais ainda com a natureza que nos cercava, com o universo todo, que parecia pertencer somente a nós, naquela bela noite.
E com certeza, espantados estariam os deuses, a me observar lá do Olimpo (no céu, visível mesmo, estava apenas o deus-pater greco-romano, pois era possível ver o planeta Júpiter, brilhando imponente entre a cauda da Serpente e as flechas de Sagitário), e estariam espantados, repito, sem poderem conceber como a vida na terra nos deixa a um passo do inferno (do coração das trevas), assim como a poucos segundos do paraíso, que quando chega nem demora tanto [ vide postagem anterior].
Digo isso tudo, porque há poucos dias atrás havia me sentido sim, às portas do inferno. Sei que pode ser exagero meu, mas é como sinto, desprezado que fui por uma bela garota que, naquele momento, detinha a posse de meu coração. Como é duro ser desprezado, incompreendido e descartado. Foi o inferno para mim. Contudo, passado esta semana, estes dias, cá estou tão perto do paraíso que bastaria um passo apenas para ser aceito no reino dos céus.
E foi assim que beijei aquela linda garota que me aquecia o corpo e o coração; foi assim, em minha alegria infinita, que beijei a noite e as estrelas, daquele universo infinito.
Aahhh... e quem me desmentirá, se disser, que até vi estrelas mudarem de lugar no céu, só para poderem nos observar melhor.