Batatas Fritas Voadoras
Sou a lâmpada que contém a luz
ou sou a luz de que a lâmpada é o veículo?
Joseph Campbell
Paciência não deve ser negligência,
Seja paciente, mas ativo.
Doçura não deve ser tolice,
Seja doce, mas letal.
Carlos Castañeda
O sol aquece minha manhã: céu de anil, nuvens de algodão. Mesmo claro, sinto o ar tão denso; às vezes é assim: é só melancolia. Melancolia do que eu nem bem sei quê.
Então, tento buscar o quê. Ponho-me diante desta janela, por onde atravesso e imagino mundos. No rádio um cara, um lobo da estepe, me pergunta: “Quem é você? Quem é você?”, me irritando. “E daí quem sou?”, eu respondo. E ele ainda vem me falar de impulsivo. “Impulsivo é o mundo todo, isso sim”. Bem, apesar de tudo, a guitarra rasga possante ao fundo da música.
Não é a fé que salvará a humanidade, não é a esperança: é o sarcasmo. Pois se há algo que mantém a sanidade humana, é o sarcasmo, essa é a maior virtude do Homem: rir de sua própria desgraça. (Às vezes, mal tolero minha criticose e sarcase).
Mas nem só de desgraças, é feita a vida; também é feita de desencontros. A vida é feita de muitos desencontros e alguns poucos encontros, que somados tornam-se, nossa história; tudo o que carrego é meu destino. E por falar em destino, nem acredito muito nisso não; contudo, tem horas que essa coisa de tudo já vir traçado de antemão, me sufoca.
Pior que o destino é o arrependimento; esse sim, um poderoso deus vingativo. Fico pensando em todas as besteiras e erros que cometi, e tudo isso me deixa extremamente irritado. É sempre mais fácil os erros, aos acertos. Mas não pensem que eu desisto (não!), eu luto; luto muito. O difícil é equilibrar toda a ansiedade e vontade, com o momento do acerto. A humanidade já nasce tardia, nascemos com a mentalidade mais atrasada que de nossos avôs. Eles sim, viveriam bem nos dias de hoje. Sofremos de uma ânsia de tudo. Já disseram que o mal do século é a solidão; mas não, o mal do século é a ansiedade. Tenham certeza, que na maioria das vezes, a solidão nasce da ansiedade.
Mas sei lá, hoje acordei com medo de mim mesmo, e quando acionei um botão, e abri esta tela, quis mostrar para mim mesmo, que sou mais forte do que esta egofobia que me assola.
De repente, vejo uma borboleta passar diante da janela de meu quarto. Uma borboleta amarela, contrastando com o anil do céu, disputando a atenção com alvas nuvens de algodão.
Não sei por quê, mas borboletas amarelas, me lembram tanto: batatas fritas voadoras.