Mutantes e Seus Cometas no País do Baurets.

Capítulo XX
Tudo foi feito pelo Sol.
Todos os combatentes baixaram suas armas, surpreendidos pelo forte brado do Baurets – grande Rei-sagitarius. – Inclusive os Mutantes.
– Os soldados da guarda podem retirar-se – o rei tornou a dizer. – E vocês centuriões, também estão dispensados.
Pouco ou nada entenderam, tanto a tropa de soldados de chumbo, quanto os Centuriões-centauro; no entanto, não questionaram a ordem do rei.
Logo, ficaram apenas Rita Lee e os outros Mutantes, diante do rei. O grande Baurets, muito sorridente, convidou a eles todos para um brinde, em comemoração dos novos tempos que se iniciavam; onde seu povo viveria em paz, todos unidos, todos juntos, reunidos, numa pessoa só.
Sem saber ao certo o que acontecera realmente, os outros quatro Mutantes seguiram desconfiados ao rei, e a Rita Lee, que também estava muito sorridente.
Assim que chegaram ao gabinete do rei, puderam ver uma grande e abastada mesa. O grande Baurets, disse a eles que sentassem e se servissem. O rei indicou a Rita, uma cadeira bem a seu lado, e fez questão de puxar a cadeira para ela se sentar.
– Aproveitem, aproveitem: representantes de meu povo! – o rei Baurets disse aos quatro aventureiros Mutantes. – Chega de guerras, que não levam a nada. Agora nosso reino será coroado de glória, paz e amor.
Rita quase não se continha, de tanta felicidade. Havia salvado seus amigos, havia conseguido livrar o rei de toda maldade e amargura que lhe ia n’alma, e principalmente, livrado todo o país de Baurets da tirania de seu rei.
Porém, ainda lhe faltava algo. Era exatamente sobre isso que ela queria tratar com o rei.
– Agradeço muito vossa hospitalidade, grande Baurets, – disse ela – mas ainda não vos disse, o que mais motivou esta minha empreitada até vosso palácio.
– Então diga minha linda! – o rei respondeu, todo cortês.
– Bem o principal motivo, que me moveu até aqui, é o desejo de voltar para minha casa, sinto tanta saudade... E me disseram que apenas Vossa Majestade poderia me autorizar a sair de vosso país.
– Sim, minha querida, assim era! Mas de hoje em diante todos serão livres, todos poderão ir e vir como bem entenderem. Chega de repressão, chega de tirania!
– Mas, bem... – Rita falou meio constrangida, não sabia como dizer – eu não sou daqui, nem de país algum daqui perto. Eu sou do planeta Terra, deve ser em uma outra dimensão não sei, pois minha terra é tão diferente desta aqui...
– Talvez pequena garota, talvez; pois são muitas as realidades. Entretanto, tens certeza que desejas partir? Por que não ficas em meu país, tu terás tudo! Serás como uma princesa!
– Agradeço-vos de novo, oh Grande rei! Porém desejo ir para minha casa, para meu lar...
– Não diga bobagens, tu bem sabes! Tua casa, teu lar encontra-se onde estiver teu coração. Entenda a música do coração.
– Sim, o magnânimo rei tens razão! Aqui – Rita falou, olhando para todos os seus amigos que estavam à mesa – encontrei grandes e verdadeiros amigos. E vocês todos podem ter certeza, que meu coração está com vocês, e que também, sempre estará. Mas preciso voltar para casa, rever meus pais, pedir-lhes desculpas por ter fugido; sinto tanto a falta deles...
– Claro minha querida, não te aflijas! Nunca te negaria um pedido destes! Tens um coração de ouro! Que tu sejas sempre assim e que possas ser feliz sempre! – assim falou o rei, pegando em uma das mãos de Rita, e lhe afagando.
E depois continuou ainda, quase declamando:
“Ande sempre para o sol.
Olhe sempre para o sol.
E tudo que você quiser,
E tudo que você pensar, será
Iluminado como um sol,
Brilhante como um sol.
Tudo o que você encontrar,
E tudo o que você amar,
Será iluminado como um sol.
Tudo foi feito pelo sol...
Viva sempre em sua luz
Tudo foi feito pelo sol...”.
Dito isso, o grande rei Baurets levantou-se de suas almofadas – sim, pois não se esqueçam que ele possuía, da cintura para baixo, corpo de eqüino, e não podia se sentar em uma cadeira – e foi até um grande armário que havia em seu gabinete, todo fechado com vidros. Lá de dentro, ele retirou uma pequena caixinha de prata; e assim, voltou-se para a mesa. Após se acomodar novamente, o grande Baurets abriu a delicada caixinha e retirou algo de dentro.
– Volto a te perguntar, pois depois não haverá volta: Desejas mesmo retornar para tua casa, para tua realidade? Tanto esta como a tua realidade, podem não ser a verdadeira. Aqui está – disse ele, estendendo as duas mãos para Rita; em uma ele tinha uma cápsula na cor azul, e na outro, uma cápsula na cor vermelha: – Se escolheres a azul, a história acaba, tu acordaras e retornaras para tua realidade, acreditando no que quiseres acreditar. Mas se escolher a vermelha, ficaras no País de Baurets, e eu te mostrarei até onde vai a toca do coelho: poderá conhecer todo encanto e magia que há neste país.
– E lembre-te – completou o rei: – tudo o que ofereço é a verdade!
Rita sentiu-se confusa com aquelas palavras do grande Baurets. Onde estaria a verdade? Será que tudo aquilo que ela conhecia como realidade, seu mundo, sua casa, sua vida, não passavam de uma matriz; uma outra matriz, tão confusa e complexa quanto aquela onde se encontrava neste momento? E quem controlaria tais realidades? E a realidade de onde vinha, poderia ser tão mágica, encantada e flexível quanto o mundo de Baurets?
Não, eram muitas as perguntas; e Rita não possuía a resposta para nenhuma delas. Decidiu então, livrar sua cabeça destes pensamentos e confiar em seu coração: a vontade de ver seus pais e lhes pedir perdão, era mais forte que tudo.
Deste modo, Rita pegou a cápsula de cor azul, das mãos do grande Baurets, agradeceu a ele, e lhe deu um grande e terno abraço. Em seguida, foi abraçar a todos os amigos que fez, nesta fantástica aventura: demorou-se muito, abraçando a Sérgio Dias, a Arnaldo Baptista, Sir Ronaldo, Arnolpho...
Emocionou-se profundamente com as despedidas. Reiterou que nunca mais esqueceria, de nenhum deles, que levaria a todos, em seu coração.
Por fim, com o auxilio de um copo de água, Rita engoliu a cápsula azul.
O rei Baurets se aproximou dela, novamente, passou a mão em seus cabelos e lhe falou com ternura:
“Venham vós ao nosso reino, aqui...
Rock’n roll, paz e amor, aqui...
E talvez o fim de semana não tenha mais fim
E talvez a nossa música não tenha
mais fim E talvez... a nossa vida não tenha mais fim...”
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