Mutantes e Seus Cometas no País dos Baurets.

Capítulo XXI
Grand Finale.
Assim que a jovem Rita Lee tomou a cápsula azul, não demorou um nada até ela sentir os olhos pesados e cair no sono.
Quando voltou a despertar, estava em uma estação de metrô da sua cidade. Sentiu o corpo dolorido, pois havia dormido encostada em uma fria parede. Já era noite, Rita quase não conseguia se lembrar de nada. Sentiu a cabeça pesada e uma sede tremenda. Lembrou-se apenas do que havia feito naquele dia, o que lhe causou uma sensação de estranheza. Rita achou que havia abusado demais de certas substâncias alucinógenas, naquele dia, e por isso adormecera profundamente, perdendo a noção de tempo. Pensou até em maneirar com o que vinha usando. Lembrava-se vagamente de ter sonhado, de ter tido estranhos sonhos, em um estranho país, com seres e pessoas mais estranhas ainda. Rita achou graça naquilo: tudo aquilo, deveria ser o efeito dos entorpecentes, que vinha usando.
Decidiu voltar para casa, pois assim como em seu sonho, ela realmente sentia saudade de sua casa, de seu lar, e de sua família. Sentiu-se muito mal por ter fugido de casa, e queria muito se desculpar e pedir perdão a seus pais.
Rita levantou-se desajeitada, e se pôs a caminhar. Aos poucos e vagarosamente, começava a recordar das coisas que sonhara: lembrou-se das pessoas que encontrara, naquele estranho país; das aventuras que vivera; do medo que sentira em certos momentos; e principalmente, dos amigos que fez. Agora que começava a recordar de seu sonho, tudo aquilo lhe pareceu muito real. Rita sentiu-se triste, o que lhe causou nova estranheza. Podia recordar-se, que em seu sonho, o país de Baurets havia passado por uma guerra, e sofria com a tirania do rei. No entanto, tudo havia terminado bem: o rei recuperara sua alegria; encerrada estava, a guerra; e a felicidade e a liberdade, passariam a reinar novamente naquele país. Mas o que causava tristeza em nossa amiga Rita, era que em seu mundo, em sua própria terra, estas coisas ainda estavam longe de ocorrer; felicidade e total liberdade, ainda eram coisas difíceis de se alcançar. Havia ainda muita pobreza, miséria. A tirania dos governantes ainda era grande. Não utilizavam mais de espadas e lanças, nem de soldados e centuriões; utilizavam sim, de sua ganância, corrupção, roubos, peculatos – novas modalidades de vilania de um mundo moderno. Tantas coisas ainda haveriam de ser conquistadas, tantos esforços teriam ainda que serem feitos para que seu país pudesse tornar-se um lugar agradável e próspero. Tantas eram as conquistas, que Rita sentia estar longe de ver este dia chegar. Infelizmente, era assim seu mundo, ainda cheio de maldade, cheio de tristezas.
Estes pensamentos trouxeram uma grande melancolia para a jovem Rita Lee. Pena, ela pensou, não possuir ali, aquele tal pó mágico – o pó de pirlimpimpim – para quem sabe, poder modificar algumas coisas que lhe incomodavam. Mas a vida era dura, e seguiria em frente de qualquer forma. Se aquele mágico sonho que Rita tivera servira para alguma coisa, foi para lhe mostrar que, mesmo assim, mesmo cercada de tantas coisas ruins, ainda havia algo que poderia ser feito, que cada indivíduo pode fazer alguma coisa, e pode buscar sempre melhorar ao pequeno mundo que o cerca, ajudar as pessoas que estão a sua volta. Rita sabia que não poderia mudar o mundo – não havia pó mágico, não havia fórmulas mágicas para isso – mas que poderia se esforçar em melhorar a si mesma, e ao pequeno mundo que a cercava.
A jovem Rita Lee, sentiu uma alegria tremenda com estes novos pensamentos. Sentiu uma vontade ainda maior de chegar em casa, de poder abraçar a seus pais, poder lhes pedir perdão, e principalmente, de lhes dizer o quanto lhes amava.
Ah! Como a vida pode nos ser boa se aprendemos a lhe encarar com alegria e coragem – e era exatamente assim que Rita se sentia: “A fortuna favorece os que ousam”.
E foi com estes novos sentimentos de esperança que Rita rumou para casa, cheia de ousadia e obstinação. Era como se um novo mundo se mostrasse diante de seus olhos. Não tão mágico como o país de Baurets, não tão encantado como este, mas também próspero e feliz. Rita sentia que só dependia dela, transformar seu mundo, no melhor dos mundos possíveis. Queria para si, apenas coisas boas, apenas sorrisos e abraços calorosos, amor e fraternidade. Recordou-se com alegria de seus amigos do país do Baurets: “Preciso urgentemente, encontrar amigos (como aqueles), para lutarem comigo”, ela pensou, “Pra não me perder por ai, e para que possamos cantar bem alto, pra todos ouvirem, do Amazonas até o Rio, a paz! Até o céu!!!”. E Rita continuava a divagar: “Vamos todos levantar dando graças aos espíritos de luz! Que os anjos do sul já vão chegar! Pois amigos são como anjos, e Deus criou os anjos para nos guiar...”.
Rita seguia caminhando, perdida entre estes seus pensamentos, imaginando como seria bom se pudesse contar com seus amigos daquele estranho mundo de sonhos e fantasias, quando, de súbito, começou a ouvir uma canção. Ela ainda se encontrava no metrô, e viu alguém tocando um violão. A jovem Rita Lee viu um homem de baixa estatura, magro, de olhos grandes e com uma barba rala. Aquele homem lhe chamou a atenção – e principalmente a música que ele tocava, que era mais ou menos assim:
“Chegue perto de mim
Não precisa falar
Acenda meu cigarro
Não queira me agradar
Queira...”
Aquela voz pareceu familiar a Rita. Ela aproximou-se mais daquele homem, curiosa; enquanto ele continuava cantando e tocando seu violão:
“...Escute esta canção
Ou qualquer bobagem
Ouça o coração, amor
Escute esta canção
Ou qualquer bobagem
Ouça o coração
Que mais, sei lá”.
Assim que Rita se aproximou e pode vislumbrou melhor o rosto daquele homem, teve um sobressalto: conhecia a ele.
– Ei, você é o astronauta libertado? – ela exclamou, surpresa.
– Como? – ele respondeu, mais surpreso ainda. – A senhorita está enganada, eu sou um músico!
– Não, é você sim! Como você chegou aqui?! Como fez para sair do país de Baurets?! Você também tomou a pílula azul?!
O músico parecia confuso, e não estava compreendendo nada.
– A senhorita está enganada – ele tornou a responder. – Eu vim do nordeste para esta grande metrópole, tentar a vida. Não conheço nada deste tal de país de Baurets.
Rita não podia crer. Aquele homenzinho que estava a sua frente era exatamente igual, era idêntico, ao astronauta que vira no país do Baurets, em seu sonho. Como aquele homem poderia ter saído de seu sonho? Ou então, como aquele homem poderia ter entrado em seu sonho, se ela nem o conhecia, anteriormente?
Vendo aquela bela jovem mergulhada em suas reflexões – e talvez achando que ela era louca – o músico pediu licença a ela e foi se retirando.
Porém, antes que ele se afastasse Rita falou a ele:
– O senhor me desculpe, devo tê-lo confundido com alguém. E... alias, parabéns, gostei muito de sua música.
Ouvindo isso o magro músico de olhos grande e barba rala, fez uma mesura, gesticulando teatralmente, como se encenasse uma peça – exatamente como fazia o astronauta do mundo de Baurets.
A jovem Rita Lee gargalhou muito com aquilo, surpresa e feliz. Não quis pensar em mais nada, pois a fantasia e a realidade lhe enchiam a alma de encanto e esperança.
Tratou de voltar logo para casa, para abraçar a seus pais.
FIM.
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