Mutantes e Seus Cometas no País do Baurets.

Capítulo XVII
Os Mutantes.
Baptista e Sérgio pareciam divertir-se com o combate, e quando viram a teimosa Rita descer ligeira em meio a batalha, contrariando o que haviam lhe dito, começaram a cantar:
Baptista – Não vem cá não vem...
Não vem cá não vem cá...
Sérgio – Não vem cá não vem, não vem cá não vem cá!!!
Rita (respondendo-lhes, cantando alegre) – Eu vou sim eu vou. Eu vou sim, eu vou sim!
Eu vou sim eu vou, eu vou sim eu vou sim!
Baptista – Eu sou teimoso. Você é teimosa...
Sérgio – Nós somos teimosos!!!
Enquanto cantavam, os três combatiam a guarda de soldados de chumbo, utilizando seus mágicos instrumentos. A tropa da guarda era grande, mas não era suficiente para deter nossos três destemidos aventureiros.
E eles continuavam combatendo e cantando, referindo-se a teimosia de Rita Lee:
Batista (repetia) – Não vem cá não vem...
Não vem cá não vem cá...
Sérgio (emendava) – Não vem cá não vem, não vem que eu vou ai!
Rita (respondia) – Eu vou sim eu vou. Eu vou sim eu vou sim. Eu vou sim eu vou, você que fique ai!!!
Os três juntos – Eu sou teimoso. Você é teimosa!
Nós somos teimosos!!!
Enquanto o combate desenrolava-se dentro das muralhas, Arnolpho e Sir Ronaldo, testavam o poder de seus instrumentos nos fortes portões do castelo. Sir Ronaldo aproximou-se e começou a tocar sua – agora mágica – caixa-de-guerra. O chão começou a tremer, as grossas folhas do portão, também tremeram por inteiro, e começaram a desprender dos gonzos que as seguravam. Arnolpho não perdeu tempo: dedilhou as grosas cordas de seu baixolão, emitindo fortes e graves rajadas sonoras, lançando, desta forma, as pesadas folhas do portão ao chão.
Os soldados de chumbo – que já estavam desbaratados pelo ataque dos três Mutantes voadores – ficaram mais temerosos e alarmados, quando viram os fortes portões da muralha virem a baixo. E assim que perceberam os outros dois Mutantes invadindo o castelo, gritaram apavorados:
– Os Mutantes estão invadindo o castelo! Os Mutantes estão invadindo o castelo!!!
Daí em diante, o combate se acirrou. Nova tropa da guarda se juntou a anterior na tentativa de deterem o ataque dos Mutantes. Contudo, nossos valorosos Mutantes combatiam com valentia. Rita derribava um grande número de soldados de chumbo, com o auxílio de seu pandeiro encantado; Sérgio com seu alaúde lançava outros longe, com seus rifes; Batista soprava e tocava as teclas da sua escaleta com destreza, obtendo o mesmo resultado. Já os outros dois Mutantes, Arnolpho e Sir Ronaldo, derrotavam outros tantos soldados, com graves potentes do baixo, e tremores de terra causados pelo toque da caixa-de-guerra e por bordoadas das baquetas-bastões.
Era um combate musical, era um bailar sonoro. Duas tropas da guarda real, caíram diante dos Mutantes. O cenário que se via, era um sem número de soldados de chumbo, espalhados pelo chão, desacordados e prostrados.
Vencido este combate, e já sem nada que os impedissem, os Mutantes adentraram no palácio. Logo a entrada, viram escrito em um grande pórtico: “Bem-vindos aos portais do Sol”. Realmente, todo o castelo parecia resplandecer como um sol, iluminado como um sol, brilhante como um sol. Ficaram todos maravilhados com a suntuosidade do que viram, as paredes do castelo tinham grandes partes revestidas de ouro; esculturas, colunatas trabalhadas, abóbadas com afrescos, arandelas e tochas luzindo em diversos cantos. Era um rico palácio, um maravilhoso palácio. Atravessaram por majestosos salões; por corredores cheios de diversas obras-de-arte. E seguiam meio sem rumo: desejavam encontrar com o grande Baurets, mas não sabiam que caminho seguir. Vez por outra, cruzavam com alguns comensais, pessoas da corte, ou com serviçais do palácio. Tentavam falar-lhes, mas nenhum deles lhes dava atenção; todos corriam assustados e surpresos, em ver aqueles cinco estranhos Mutantes transitando dentro do palácio real. Em certa altura, chegaram em um belo jardim interno, meticulosamente conservado: com chafarizes e pequenas cascatas, plantas artisticamente podadas, flores diversas; e onde belas e jovens garotas passavam o tempo: umas molhando os pés nas águas cristalinas das fontes e cascatas, outras colhendo flores de diversas cores, e mais outras, caminhando e saltitando alegres, pelo simples fato de existirem, brincando entre si, joviais.
Assim que as belas ninfas notaram a presença daqueles estranhos Mutantes, começaram a gritar, apavoradas, e se puseram a correr em desespero.
Prevendo encrencas, nossos heróis atravessaram rápido por aquele encantado jardim e voltaram a entrar no palácio, através de outra ala. Talvez por sorte, ou mesmo por instinto, estavam se aproximando do gabinete real. Logo deram de cara com um imenso corredor, onde se podia ver, uma infinidade de armaduras de diversos materiais, de ambos os lados do corredor. Percorreram aquele trajeto, admirados com as grandes armaduras, que pareciam ser de diversas épocas e reinos. No final do corredor deram de cara com uma imensa porta dourada, onde podiam ver o brasão real, talhado com esmero.
Todos adivinharam, que ali, deveria ser os aposentos particulares do rei, seu gabinete real. Sem tardança, puseram-se a empurrar as grandes folhas da porta, que acabaram se abrindo, sem muita dificuldade. Adentraram em uma imensa anti-sala dourada, com uma grande mesa ao centro. Deveria ser a sala de reuniões do rei, onde eram decididos, as guerras e o destino do povo. Do outro lado desta anti-sala, havia uma meia-dúzia de degraus que subiam até uma outra porta, semelhante a que acabaram de atravessar. E foi pra onde eles rumaram, mas antes mesmo de se aproximarem, viram suas grandes folhas abrirem-se; e o que viram sair de dentro, não lhes agradou em nada. Recuaram apreensivos, pois viram uma dúzia de centuriões do rei, avançar sobre eles. Entretanto, não eram centuriões comuns, eram todos como os centauros: tinham cabeça, braços e tronco de homem, e no restante, corpo de cavalo. Sim, eram poderosos Centuriões-centauro; demonstravam fúria em seus olhos, e portavam longas e pontiagudas lanças em suas mãos.
Nossos amigos Mutantes, decidiram voltar por onde vieram, mas viram frustradas suas intenções, pois centenas de soldados de chumbo, já tomavam conta do longo corredor que atravessaram. Encurralados como estavam, eles não sabiam se prestavam atenção à numerosa tropa de soldados de chumbo, ou àqueles temíveis Centuriões-centauro; que já brandiam suas pontiagudas lanças em direção a eles.
Rita viu seus amigos lhe cercar, com o intuito de lhe proteger dos soldados lhes cercavam a passagem, e principalmente, dos Centuriões-centauro, que avançavam irascíveis – assim como na antiguidade os Lápites, protegeram a noiva de Pírito, Hipodâmia, de um centauro embriagado que queria lhe causar mal, e de seus amigos centauros, que provocaram uma terrível batalha.
Mas deixemos para o próximo capítulo, a seqüência destes decisivos acontecimentos.
(...continua)
[ e não deixe de conferir os capitulos anteriores ]
[Voltar ao Cap. 01] | Próximo Capítulo >> |