Mutantes e Seus Cometas no País do Baurets.

Capítulo XVI
Combates e reencontros.
O rosto de Sérgio Dias, crispou-se. Os olhos de Arnaldo Batista, faiscavam de indignação e revolta. Rita Lee estava pálida, temia muito por seus amigos, acorrentados e aprisionados por tão numerosa tropa.
– É chegada a hora de testarmos os mágicos instrumentos do magnânimo artesão! – Sérgio bradou, empunhando seu alaúde mágico.
– Isso mesmo! Vejamos do que são capazes!!! – concordou Baptista.
– Não sei. Os soldados são tão numerosos! – Rita respondeu preocupada. – Não podemos vencer todos eles...
– Não temas querida! – Batista tentou lhe reconfortar. – Além do mais, tu ainda tens um pouco do mágico pó de pirlimpimpim, não tens?
– Sim tenho...
– Então, não esperemos mais... – disse Sérgio. – Utilizemos do pó de pirlimpimpim!
Rita sentiu-se confiante com toda aquela valentia e coragem de seus amigos; abriu sua pequena bolsa cravejada de pérolas, retirou uma pequena mãozada do pó mágico e espalhou sobre a cabeça dos dois amigos, e também, de sua própria.
A mutação ocorreu rápido: as potentes asas de inseto voltaram a crescer nas costas de Sérgio, assim também como seu par de membros de inseto; Batista, tinha suas pernas transformadas outra vez em fortes pernas de grilo, nas costas suas pequenas asas também cresceram, protegidas por uma carapaça; Rita via novamente suas belas asas de cisne, brancas e enormes, crescer-lhe as costas.
E foi assim que nossos heróis avançaram sobre a grande tropa que levava os prisioneiros. O primeiro a cair sobre as tropas foi Baptista, que cortou o céu em um único salto, caindo bem em meio aos surpresos soldados de chumbo. Logo a seguir, todos sentiram o ar encher-se com o forte zumbido das asas de Sérgio, que se aproximava voando veloz; e também, puderam ver o gracioso vôo de Rita que mergulhava dos céus, numa velocidade alucinante. Alguns soldados mais espertos, tentaram reagir aquele ataque, mas foram logo vencidos por Baptista, que começou a tocar sua escaleta, soprando fortes rajadas sonoras nestes soldados, lançando eles longe, e já desacordados pelo impacto da massa sonora. Quem também não perdeu tempo foi Sérgio: aproveitando-se da habilidade que suas asas de inseto lhe davam, de poder voar com velocidade e também com lentidão, começou a sobrevoar a tropa, tirando de seu alaúde, rifes e acordes potentes, que derrubavam quatro, cinco soldados de uma única vez. Rita mergulhava graciosa por sobre a tropa, voando com leveza, e tocando seu pandeiro encantado, do qual, a cada vez que lhe batia e agitava, desprendia-se uma fina fumaça lilás, que envolvia sua vítima, deixando-a desacordada. Bem se via que cada um de nossos heróis, tinha muita intimidade com o instrumento que receberam de presente daquele magnífico vaqueiro-artesão: Baptista tocava sua escaleta furta-cor com vontade e esmero, retirando sons estridentes, sons suaves, soprando rajadas sonoras que varriam tudo em seu caminho, como a um poderoso grasnar de grifo; Sérgio era um virtuoso ao alaúde, dedilhava acordes destruidores, rifes potentes, que eram como um verdadeiro coice de Pégasos; e Rita embalava tudo, num ritmar sem igual que empreendia em seu pandeiro, enfeitiçando e prostrando todos a seus pés, exatamente como uma sereia, ou uma serpente encantada.
A tropa de mais de setenta soldados, não suportou mais do que alguns minutos ao ataque de nossos heróis. Logo o que se via era uma quantidade enorme de soldados caídos, espalhados e prostrados ao chão. Após a batalha, os três heróis trataram logo de libertar aos amigos e também aos outros prisioneiros. Todos se abraçaram e cumprimentaram-se felizes pelo reencontro, e também pela liberdade readquirida. Rita quis logo saber, o que havia acontecido com eles desde a última vez que se viram.
Sir Ronaldo foi o primeiro a lhe narrar os fatos:
– Ah, minha linda jovem! Minha querida amiga! – disse ele, todo emocionado. – Assim que me apartei de vocês, voltei para a praça da Cidadela em auxílio ao amigo El Justiciero, e quando cheguei, vi a praça tomada por um sem número de soldados. Meu valente e herói cumpadre El Justiciero, lutava bravamente junto a seu destemido cavalo Fiel; suas balas zuniam para todos os lados perseguindo os soldados, berrando em seus encalços e derrubando a muitos deles; enquanto que Fiel distribuía suas mordidas e coices, estraçalhando e lançando longe a vários soldados de chumbo. Todavia, a quantidade de soldados era enorme. Meti-me no meio da batalha em auxílio a meus amigos, mas logo chegou nova tropa em reforço aos que estavam na praça.
– Sí! La guarnición estava mui densa, mui cerrada! – confirmou El Justiciero.
– Nada pudemos fazer, quando uma centena de mãos caíram sobre nós – completou Sir Ronaldo. – Aprisionaram-nos, junto a estes cidadãos que vocês podem ver agora.
– Se acalme, – Rita falou a Sir Ronaldo, passando a mão em seu rosto, tentando lhe serenar o espírito – agora isso tudo é passado. Eu também pensei que fosse tarde! Mas, só agora saquei a verdade; viajei nessa de Mutantes, foi muito...
– Sim minha linda jovem – ele respondeu, menos agitado. – Sabe, também estou começando a me sentir tocado, estou começando a entender a música do coração...
– E quanto a você Arnolpho? – Rita perguntou – Como foi cair também nas mãos da tropa do rei?
– Ah, linda Rita... tu não sabes o que é ter nascido para sofrer... – ele respondeu, lamurioso – por mais que me esforce acabo sempre me dando mal. Quando vocês partiram, permaneci enfrentando aos cães vigias do Jardim Elétrico. Você precisava ver Rita, – ele acrescentou, quase animado – a lição que dei naqueles dois. Depois de pô-los para correr, com os rabos entre as pernas, sai do Jardim Elétrico e me encaminhei para estrada real... – Arnolpho fez uma pausa, e voltou a falar, entristecido novamente: – Pensei em voltar para a cidade, porém, havia me esquecido de que a cidade estava tomada pelas tropas do rei. Não demorou nada e logo fui surpreendido por um grande número de soldados, que me aprisionaram. Pena o efeito do mágico pó já ter passado, àquela altura, pois duvido que conseguissem me deter.
– É, mas veja como você está errado quanto a sua má sorte – Rita disse a ele, tentando lhe animar. – Agora está entre nós, a salvo!
– Sim, Rita, minha linda – ele respondeu, dando-lhe um abraço. – Foi muita sorte mesmo, terem posto um anjo como você em meu caminho...
– És verdad! Tu és uno espíritu celeste!!! – concordou El Justiciero, também se aproximando de Rita, e beijando-lhe a mão com delicadeza.
Rita sentia-se enternecida com tudo aquilo. Contudo, sabia que não poderia permanecer, por muito tempo mais, junto a estes novos e fantásticos amigos que fez, neste fantástico e mágico país de Baurets.
– Obrigada, amigos – disse ela. – Estão todos livres agora, cada um pode seguir seu caminho. Resta apenas, eu conquistar minha própria liberdade, para que eu possa seguir meu caminho, de volta para casa.
– Quanto a isso pode contar com minha ajuda, no que for preciso! – falou Arnolpho Lima. – Eu sou, você é; e todos juntos somos nós!
– E a minha ajuda também! – acrescentou Sir Ronaldo. – Pois também estou aqui reunido, numa pessoa só!
– Yo también soy tu vassalo, mi querida! – falou El Justiciero, pondo-se a disposição de Rita. – Hacemos todo por ti! Todos juntos somos nosotros.
– Agradeço muito El Justiciero, mas creio que este povo precisa mais de você do que eu... Vá, leve-os de volta, a salvos. E estejam todos como o Senhor Bom Deus.
– Sí linda joven! Se és así que quieres, así serás – respondeu El Justiciero, voltando a lhe beijar as mãos.
Mas antes de se despedir, ele entregou uma carta a ela e lhe disse:
– Tomas! Entregue este escrito al rei Baurets, e diga-lhe que medites sobre la arbitrariedad que fazes...
Assim que El Justiciero partiu, escoltando o povo recém libertado, Sir Ronaldo foi até a carroça dos soldados, que transportava tudo o que fora aprendido com os prisioneiros, e conseguiu recuperar sua caixa-de-guerra, junto as suas baquetas que se transformavam em rígidos bastões. Arnolpho Lima lhe acompanhou curioso, e acabou descobrindo, entre os objetos apreendidos, um belo baixolão – instrumento de cordas, de som grave – e que lhe agradou; ficando então com o instrumento para si, pois também era um grande admirador de música.
Enquanto isso, Rita, Baptista e Sérgio observavam as grandes muralhas do castelo do rei Baurets. Assim que Sir Ronaldo e Arnolpho se aproximaram, puderam ouvir o dialogo deles:
– Será fácil entrarmos – disse Sérgio. – As muralhas são altas, mas com nossas mutações as venceremos facilmente.
– Sim, é verdade – Baptista concordou. – Façamos o seguinte: eu e Sérgio passaremos por sobre as muralhas, e tu Rita, ficas aqui junto ao Arnolpho e ao Sir Ronaldo, até vermos a situação lá de dentro.
– Exato! Completou Sérgio. – E depois abriremos o portão, para que possais passar.
Dito isso, nem esperam a resposta de Rita, rumaram apressados em direção ao castelo: Sérgio agitou suas asas de mosca e decolou veloz; enquanto que Baptista, deu um longo pulo com suas potentes pernas, também em direção ao castelo.
Neste meio tempo, Arnolpho pediu para Rita jogar um pouco do pó de pirlimpimpim sobre sua cabeça, para ele se transformar novamente em Arnolpho-crocodilo, e para que, desta forma, pudesse também lhe auxiliar contra a guarda do rei. Rita abriu então sua bolsa cravejada de pérolas e retirou um punhado do pó de pirlimpimpim, jogou o pó sobre a cabeça de Arnolpho e sobre seu instrumento musical. Fez o mesmo com Sir Ronaldo, e seu instrumento. Com isso, a mutação dos dois logo se iniciou: uma poderosa calda de crocodilo cresceu em Arnolpho, e sua face transformou-se por outra vez, em uma grande mandíbula de crocodilo; Sir Ronaldo, admirou-se com a mutação que sofria, pois viu seus braços se transformarem em grandes garras de escorpião, e nascer-lhe outros dois pares de membros, mais admirado ficou, por ver crescer-lhe uma grande calda de escorpião, com um mortífero ferrão em sua ponta. Ambos sentiram-se fortes como nunca. Sir Ronaldo, extasiado com aquilo, passou a tocar sua caixa-de-guerra, que devido ao mágico efeito do pó de pirlimpimpim, causava um forte tremor de terra em seu entorno. Arnolpho, vendo aquilo, quis testar seu instrumento também e passou a tocar as grossas cordas de seu baixolão. O que viu, foi uma estrondosa rajada sonora desprender-se das cordas, emitindo graves potentes.
Satisfeita com o efeito do mágico pó de pirlimpimpim, Rita disse a eles:
– Bem, acho que agora vocês podem atravessar os portões do castelo, por conta própria. Voarei por sobre as muralhas para ajudar aos outros dois, pois creio que irão precisar de ajuda. Nos encontramos lá dentro.
Assim falou, e assim decolou, abrindo suas magníficas asas de alvas plumas e ganhando o céu, majestosa.
Sem mais tardar, Arnolpho-crocodilo e Sir Ronaldo-escorpião, rumaram até os portões do castelo.
Logo, os cinco Mutantes estariam todos lá dentro.
(continua...)
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