Mutantes e Seus Cometas no País do Baurets.

Capítulo XV
Novas aventuras.
Continuavam caminhando em direção ao castelo do rei Baurets – que já se podia ver, bem perto, no horizonte.
– Puxa vida, estou com uma fome! – Rita Lee reclamou.
– É eu também estou – Sérgio reiterou – Acho que podemos procurar alguma coisa para nos alimentarmos antes de ir para o castelo.
– Sim, tem muitas fazendas por estas redondezas – respondeu Arnaldo Baptista. – Acho que não será difícil conseguirmos alguma coisa.
– É, podemos desviar um pouco nosso trajeto e falar com os vaqueiros... – Sérgio tornou a dizer.
– Bem, se não se importam – disse Rita – eu gostaria sim, de ver se conseguimos algo...
E foi assim que eles agiram. Rumaram em direção as fazendas daquela região. Aquela altura, o efeito do mágico pó de pirlimpimpim, já havia passado, seus corpos haviam voltado a seu estado natural.
Não demorou muito, e eles puderam avistar um vaqueiro sentado ao sol. Parecia bicar o céu, fumando, aproveitando os últimos raios, naquele crepúsculo de dia. Tudo parecia respirar a paz, uma grande nuvem de algodão passava lenta no céu, enquanto que no chão a verde grama brotava viçosa. Havia um cheirinho bom, pairando no ar, um cheirinho de leite fresco, de um leite legal. Com certeza, no espírito de nossos aventureiros, deve ter batido a doce idéia de viver ali (por que não?); enquanto a turma de vaqueiros tira o leite... enquanto a turma da cidade dá um duro até às seis...
Antes que eles se aproximassem do vaqueiro, viram que uma bela camponesa dirigia-se até ele.
– De novo aqui meu bom José? – ela perguntou, assim que o alcançou. – Mariazinha chora, meu bom José...
– Ah, querida... – o vaqueiro respondeu desconsolado – não sei mais o que fazer com nossa pobre Mariazinha.
– Também temo tanto pela saúde de nossa pequena, meu José. Tenho tanto medo.
– Ah, meu amor... O que aconteceu com nosso país, tanto mal, tanta coisa ruim acontecendo. Parece que está tudo virado! Venha cá – ele continuou dizendo a ela, lhe abrindo seus braços, acolhedor – Me abrace! Beija-me a boca... com tua boca vermelha. Para que eu sinta seu gosto, mesclado com o gosto de amor.
E eles beijaram-se e abraçaram-se, carinhosos. A bela camponesa olhava com amargura para seu marido, parecia carregar muitas preocupações em seu frágil peito.
– Ah, meu amor, não deixe que eu me comova... – disse ela. – Me dê um cigarro destes ai, vai; sem filtro e vagabundo como nós. Ando tão triste e sem esperança; é nossa pobre pequena doente, é a guerra que se espalha por nosso país. Não, não podemos sofrer tanto assim. Não quero mais ler os jornais, que noticiam crimes, não participaremos destas mortes vis. Meu marido, meu bom José... beija-me os lábios varonis, sim... – ela completou, beijando seu marido, por outra vez.
Nossos três viajantes sentiram-se constrangido em interromper aquele belo momento de intimidade entre os dois, e iam seguindo em frente. Mas foram interpelados pelo vaqueiro, assim que ele os notou:
– Ei, quem são vocês? Para onde vão?
– Somos viajantes, fugindo da guerra, meu bom vaqueiro! – Baptista respondeu.
– E estamos com fome – completou Sérgio Dias, – pensamos que talvez encontrássemos por aqui, pessoas de bom coração que pudessem nos dar um pouco do que comer.
– Bem, – ia dizendo o vaqueiro enquanto aproximava-se de nossos amigos – se é de alimento que precisam, não lhes faltará. Venham, vamos até minha casa.
Seguiram então ao vaqueiro, até sua casa, que não ficava muito distante de onde estavam. Era bem simples, rústica, mas acolhedora. Os prestativos anfitriões armaram logo uma bela mesa com leite, pães, milho, entre outras tantas delícias. Os três aventureiros se alimentaram bem, pois estavam todos famintos; enquanto que o casal de anfitriões observava a tudo, taciturnos.
Terminado a refeição, Rita não deixou de recordar-se do que ouvira do casal, há pouco, sobre a filha doente, e tratou logo de lhes perguntar, não antes de agradecer.:
– Agradeço muito pela refeição, obrigada! Vocês são pessoas muito gentis e de bom coração. Que pena, me parece que a filhinha de vocês está doente. Se houver alguma coisa que possamos fazer por ela, não hesitem em nos pedir.
– Sim, nossa pobre filhinha encontra-se muito doente –aquela camponesa respondeu, aquela preocupada mãe. – Está febril e não há o que faça sua febre baixar...
– Faríamos qualquer coisa para curá-la – completou o vaqueiro.
Rita Lee, ficou pensativa. Parecia remoer alguma idéia em sua cabeça. Não demorou muito, ela voltou a dizer aos anfitriões da casa:
– Se os senhores me permitirem, eu gostaria de tentar fazer algo pela filha de vocês.
– Já não sabemos o que fazer, toda ajuda será muito bem vinda – o vaqueiro respondeu. – E com essa guerra, não podemos nem trazer um médico para ver nossa pequena...
– Não se preocupe. Tenho aqui comigo, um pó mágico, que realiza maravilhas. Acho que podemos fazer algo por sua filha. Que acha? Vamos tratar da saúde! Que tal um... chá?
– Chá?
– Chá?
– Pra gente se achar...
Os gentis anfitriões levaram Rita até a cozinha, onde puderam preparam o chá, sem demora. Logo após, todos acompanharam a bela camponesa até o quarto onde a pequena menina convalescia. Era uma linda garotinha de pele alva, cabelo encaracolado; suava e tremia muito, por causa da febre. Sua mãe, lhe acordou, ergueu sua cabeça com muita gentileza e carinho, e levou a xícara com chá, até sua delicada boquinha. Com toda certeza nossos três aventureiros, sentiram seus corações partidos, por ver aquela linda e delicada criança adoecida. Desejaram muito que o chá, feito por Rita, pudesse curá-la. Ficaram observando a pobre menina tomar o chá. Ela estava pálida, seus doces olhinhos de mel, estavam baços e lacrimosos.
Terminado a xícara de chá, a garotinha voltou a recostar sua cabeça no travesseiro. Sua mãe ficou a seu lado, alisando seu cabelo. Não tardou e logo sua face pareceu começar a corar. Todos se alegraram com aquela aparente melhora. (E era verdade, o mágico chá feito por Rita, estava começando a fazer seu efeito, em breve aquela linda garotinha estaria livre da febre).
Vendo a melhora da filha, os gentis anfitriões abraçaram e agradeceram muito, a Rita Lee. Não sabiam como recompensar aquele anjo enviado dos céus, pela ajuda a filhinha querida. Dessa forma, como aquele vaqueiro tinha outras habilidades, convidou então nossos três amigos para um outro cômodo da casa, onde poderiam escolher um presente como recompensa pela ajuda. Assim que adentraram no cômodo, viram uma infinidade de instrumentos musicais, que o vaqueiro – que também era artesão – havia confeccionado. Apaixonados pela música com eram, Arnaldo Batista e Sérgio Dias, se encantaram com a variedade e quantidade de instrumentos, que havia ali. O vaqueiro-artesão disse a eles que poderiam escolher qualquer instrumento como presente. Ah, mas quem disse que eles puderam escolher fácil, eram tantos e tão bem talhados que não sabiam qual escolher. Por fim, Sérgio acabou escolhendo um alaúde; Batista se encantou com uma escaleta furta-cor; Rita escolhera para si, uma espécie de pandeiro sem pele, ornado com guizos e conchas marinhas.
O vaqueiro-artesão elogiou a eles pela escolha dos instrumentos; e achou de bom tom, no entanto, alertar-lhes:
– Tomem muito cuidado! Fizeram boas escolhas, mas saibam que estes são instrumentos mágicos, feitos com mágicos materiais. Seu alaúde Sérgio, foi feito com a madeira da árvore mais rara do país de Baurets, e suas indestrutíveis cordas, foram feitas com as crinas do mitológico Pégasos. As teclas da escaleta que você escolhera Baptista, são feitas das grandes unhas de um grifo; outro mitológico animal, de grande poder. Já seu pandeiro, querida e bela Rita, é feito com guizos de serpentes e com conchas colhidas pelas próprias Nereidas. Tomem cuidado ao tocarem, pois o alaúde pode emitir notas e acordes, tão fortes como os coices do próprio Pégasos; a escaleta, pode soar tão terrível e aterradora quanto o grasnado iroso de um grifo; e o pandeiro de Rita, possui o encanto das sereias e das serpentes.
– Oh, magnânimo e talentoso homem! Que vós tenhais vida longa! – Baptista disse a ele, todo entusiasmado com o presente que ganhara.
– Sim, que sejais eternamente feliz com vossa família! Oh, grande artesão! – Sérgio desejou a ele.
– Oh, eu é que tenho que agradecer a vocês caríssimos amigos – o vaqueiro-artesão retrucou. – É devido a vocês e a este anjo – ele referia-se a Rita – que minha pequena começa a se restabelecer. Serei eternamente grato a vocês!!!
– Seremos eternamente gratos! – sua esposa confirmou.
– Também não irei esquecer de vocês dois e do grande amor que os uni – Rita respondeu toda emocionada, já quase chorando. – E nem da linda filhinha de vocês. Fiquem todos com Deus...
Após estas e outras emocionadas despedidas, nossos bravos e valorosos aventureiros se puseram a caminho do castelo do rei Baurets. Voltaram pelos mesmos campos que trilharam anteriormente. Caminhavam com a alma cheia de alegria. A cada minuto, a cada acontecimento, a amizade que havia entre eles, crescia ainda mais; sentiam-se mais fortes, mais confiantes.
Não tardou em voltar a verem as grandes muralhas do castelo do rei; alguns minutos mais, e eles já estariam aos pés da muralha. Contudo, isso não foi motivo algum de alegria, pois de onde estavam, puderam avistar também, uma grande guarnição de soldados do rei, apontando do lado oposto do horizonte. Aquela grande tropa, de soldados de chumbo, trazia alguns prisioneiros para o castelo. E nossos heróis sentiram seus corações apertados quando reconheceram, dentre as dezenas de prisioneiros, Sir Ronaldo, El Justiciero, e também o amigo Arnolpho Lima – todos acorrentados. – E logo atrás, vinha também, o belo alazão de nome Fiel, muito bem amarrado e escoltado por quatro soldados de chumbo.
(continua...)
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