Correspondências: Carta 04
“Sabei, Custódia, que Amor
Inda que tirano, é rei,
Faz leis, e não guarda lei,
Qual soberano Senhor”.
Gregório de Matos
Não sei mais o que te dizer. Você insiste em querer ver algo que já não existe mais. Sonha com coisas tão distantes e já quase apagadas de nossas vidas.
Não sei se posso chamar de felicidade, o que vivemos. Tivemos bons momentos, temos uma bela filha, um belo rapaz; mas felicidade, no sentido completo da palavra, não sei. Prefiro não tentar me enganar, prefiro acreditar que vivemos como tinha que ter sido. Não estou querendo dizer que foi uma vida ruim; o que quero dizer, é que nosso casamento nunca foi um mar de felicidades. Desde o começo (tu bem sabes), não foi um verdadeiro amor que nos uniu, agora posso falar sobre isso sem maiores remorsos. Mas também nem quero reclamar e falar destas coisas passadas, o que quero, é que tu possas viver em paz e que todos nós possamos levar nossas vidas da melhor maneira possível. Inclusive nossa filha. Ela pede para eu te comunicar que não voltará a morar contigo, e que inclusive está noiva e em breve se casará. Sei que para você isso pode soar como uma novidade, mas nossa filha vem escondendo de ti este relacionamento já há um bom tempo. Ela desejava poupar-te de aborrecimentos, mas em breve tu saberás quem é este, com quem nossa filha deseja se casar (descoberta esta que não ti será agradável, pois tu conheces, e muito bem, o futuro noivo de nossa filha). Entretanto, não adiantemos as coisas; para que penarmos agora, se em breve o futuro nos alcançará e nos tocara com suas novidades.
de sua preocupada
e sincera ex-companheira”.
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