Mutantes e Seus Cometas no País do Baurets.

Capítulo XIII
O mágico pó.
Com um grampo que tirou de seu cabelo, Rita Lee, abriu o trinco que prendia a coleira, que prendia o jovem homem, de nome Arnolpho Lima. E antes mesmo que os filhotinhos de cachorro houvessem terminado de mamar, eles já haviam evadido pelos fundos do quintal, adentrando no Jardim Elétrico, por outra vez. Esgueiraram-se com cautela, pois não sabiam onde estava o cão chefe da família: e se caso esbarrassem com ele, já podiam ver que estariam encrencados..
Por sorte, demorou e muito para a família canina, notar a ausência dos visitantes, e um pouco mais ainda, para notarem, que seu animal de estimação não estava mais na corrente. Foi a mamãe cachorro, que notou primeiro, logo após os famintos cachorrinhos terminarem de mamar. Ela correu então até a porta da frente da casa, e pôs-se a latir enfurecida, pela dupla fuga. Não demorou nada até o cachorro pai, chegar esbaforido a sua casa, após ouvir os incessantes latidos de sua companheira.
– Por que esta agitação toda? Au, au! Onde estão aqueles três? – o cão perguntou.
– É exatamente por isso que estou agitada! Au, au! Eles fugiram!
– Ah, aqueles invasores despudorados. Au, au! Tiveram coragem de nos enganar...
– E ainda libertaram nosso bichinho de estimação... – a cachorra latiu, melindrada e cheia de desgosto.
– Rrrruuuhhhh! Não acredito!!! Au, au! Vou estraçalhá-los com meus dentes assim que os encontrar – o cão bufava e babava de raiva.
– Vou por nossa ninhada no berço. Au, au! Assim podemos deixá-los sozinhos sem problemas, e eu posso ir contigo atrás deles. Não vejo a hora de abocanhar uma daquelas canelas fugitivas...
Enquanto, os cães confabulavam, nossos valentes e destemidos aventureiros, tratavam de fugir o mais rápido possível. Bem sabiam, que logo estariam com aqueles dois ferozes cães em seus calcanhares; e com certeza, mais furiosos ainda.
– Como é grande este jardim – Baptista comentou, enquanto corriam apressados. – Não terminamos nunca de atravessá-lo.
– Sim, este jardim é bem grande – respondeu o novo amigo, de nome Arnolpho, – e temos que nos apressar; a esta altura, os cães vigias, já descobriram nossa fuga.
– Mas para onde devemos ir? – Rita perguntou.
– O mais longe possível deste jardim... – Sérgio afirmou.
– É que eu estou esgotada... – Rita tornou a dizer, com a voz bem fraca, e já parando.
– Rita, não podemos parar... – Baptista disse a ela, voltando para lhe amparar.
– Estou com sede, preciso de água – disse ela.
– Venham, eu sei onde tem água – Arnolpho disse a eles, pelo vista ele deveria conhecer bem aquele jardim.
Todos trataram de seguir Arnolpho; e pouco depois, chegaram numa parte do jardim onde havia um lindo chafariz: jatos de água, eram lançados em diversas direções, iluminados por luzes coloridas. Rita não pensou duas vezes, correu até um dos jatos e tomou toda a água que conseguiu amparar com as mãos. Baptista, Sérgio e Arnolpho também aproveitaram para matar a sede. Enquanto tomava água, os olhos de Rita fixaram-se em uma enorme planta verde, que havia ali por perto. Ela parou de beber de imediato, pois muito lhe surpreendeu aquela enorme planta: sua cabeça era como uma grande flor verde, que se abria no topo, em grossas pétalas, ou folhas, do centro de onde saia um tipo de pólen que variava do vermelho ao amarelo. Era um pó finíssimo, que vez por outra a planta fazia questão de lançar ao ar. Mas isso nem foi o que mais lhe espantou em relação aquela estranha planta, que mantinha dois grandes olhos beges em Rita, onde se podia ver duas pupilas vermelhas. A grande planta sorria para Rita com seus grossos lábios, mostrando seus inúmeros dentes amarelos. Se um humano fosse, poderíamos dizer que aquela planta seria uma pessoa obesa, com grossos lábios carnudos, grandes bochechas, e uma enorme papada. Rita Lee, pode notar ainda, que aquele pólen, tinha propriedades mágicas, pois quando a planta expelia o fino pó no ar, assim que entrava em contato com algum inseto ou animal, maravilhas ocorriam: um marimbondo que sobrevoava a planta assim que foi atingida pelo pó mágico, triplicou de tamanho, e encarapuçou-se como se tivesse o corpo de metal, suas frágeis asas, tornaram-se como fortes hélices, seu ferrão parecia agora, uma arma letal; e após sua metamorfose, cortou o céu voando velozmente, como se fosse um helicóptero de guerra. E assim ocorria, onde quer que o pó mágico tocasse, pois quando uma pequena quantidade caiu ao chão, atingiu um besouro que passava. A partir daí, nova metamorfose ocorreu: o besouro quintuplicou-se de tamanho; sua carapuça, enrijeceu-se como se fosse de aço; suas pequenas pernas, tornaram-se fortes pernas, firmes como as esteiras de um tanque; já seus pequenos chifres de defesa, converteram-se em aparentes e potentes canhões de combate; e assim seguiu o avassalador besouro após sua metamorfose, como se fosse um verdadeiro tanque de guerra. Vários outros pequenos prodígios ocorreram, mas me atenho apenas a estes para exemplificar o quanto mágico era aquele pólen da grande planta verde.
Maravilhada com tudo aquilo, Rita aproximou-se da estranha planta, que lhe disse:
– Olá minha bela jovem!
– Cuidado Rita, não te aproximes! – Sérgio alertou. – esta planta pode ser perigosa!
Rita nem ligou para o que ele dizia, sentia que aquele planta não poderia lhe fazer mal algum.
– Estou maravilhada! – disse ela. – Seu pólen, é mágico! Transforma todas as coisas que toca...
– Sim minha querida menina! Meu pólen é mágico, chama-se pó de “pirlimpimpim”.
Rita Lee, teve um sobressalto; tanto, que todos os outros notaram, e se aproximaram dela, para ampará-la, pensando que aquela estranha planta havia feito algo.
– O que tens, Rita? – Baptista perguntou.
– O que esta planta te fez? – reiterou Sérgio.
– Acho que devemos nos afastar... – completou Arnolpho.
– Não, não. Não é isso – Rita respondeu a eles. – É que de onde venho, existe uma linda fábula, onde os personagens usam um pó mágico, que tem este mesmo nome...
– A mágica está em todos os lugares... – a estranha planta respondeu.
– Então este seu pólen, é o mesmo pó de pirlimpimpim que Narizinho, Pedrinho e a boneca Emilia usam? – Rita se espantou.
– Sim, tudo é uma só coisa. A mágica está dentro de todos nós – tornou a dizer, a sábia planta verde.
Os outros três ouvintes não entendiam nada daquilo, e se espantaram quando Rita perguntou aquela estranha planta, se ela poderia levar um pouco de seu pólen, ou seja, do pó de pirlimpimpim. A enorme, estranha e sábia planta verde, disse que não haveria problema algum. Dessa forma, Rita abriu sua pequena bolsa cravejada de pérolas, e a encheu com o máximo de pó de pirlimpimpim que conseguiu.
E foi assim que eles seguiram. Rita explicou a seus amigos, algumas coisas sobre o fantástico Sítio do Pica-pau Amarelo, e toda maravilha que havia nele. No fundo não acharam nada de extraordinário, pois prodígios como os do sítio, ocorriam com freqüência no país de Baurets. Só foram interrompidos destes colóquios, quando em certo trecho do caminho foram surpreendidos pelos cães-vigia do Jardim Elétrico, que os cercaram.
– Rrrruuuhhhh! Encontramos vocês! Au, au! Acharam que podiam escapar de nós?! Au!!! – latiu o grande cão vigia.
– Agora vocês sentirão a força de nossas mandíbulas! Au, au! Completou a fêmea, raivosa. – Vamos estraçalhar suas carnes! Rrrruuuhhhh!
Não havia como escapar. Estavam cercados por aqueles dois cães furiosos. Correr nem era possível, pois os cães eram muito mais velozes que eles.
– Ô ôuhh! Acho que estamos encrencados... – Arnolpho falou.
[ e não deixe de conferir os capítulos anteriores ]
[Voltar ao Cap. 01] | Próximo Capítulo >> |