Mutantes e Seus Cometas no país do Baurets.

Capítulo VI
A cidadela.
Seguiram caminhando. O cenário começava a mudar lentamente. Já não estavam mais nos prados e colinas verdejantes; agora a paisagem era constituída por pequenos bosques e vales, com várias estradas cortando o chão em diversos rumos.
Dentre estas estrada, logo puderam ver uma de tijolos amarelos.
– Vejam, vejam! – exclamou Rita Lee. – A estrada de tijolos amarelos!
– Por que o espanto? – perguntou Arnaldo Baptista. – É a antiga estrada que ligava nosso país ao outro vizinho.
– Vocês conhecem a história de Dorothy? – Rita perguntou.
– Dorothy? Que Dorothy? – disse Sérgio.
– Não, eu também não conheço nenhuma Dorothy... –Baptista, reiterou.
– É uma fantástica história de um outro mundo mágico, – Rita Lee ia dizendo – assim como este. Podemos seguir por esta estrada?
– Não, não podemos. Desde que Vossa Majestade, o grande Baurets, sofreu vossa crise, mandou fechar todas as estradas. Todas as saídas e entradas do país, estão fechadas – disse Sérgio.
– E desde de então encontramo-nos isolados. Só com a permissão do rei é que se pode sair do país – Baptista completou.
– Puxa, um mundo tão encantado e maravilhoso, como este, e vocês vivem presos?
– Sim, minha menina! – concordou Baptista – Nem tudo são maravilhas: o povo vive oprimido por nosso rei, o grande Baurets. Não é isso amigo Sérgio?
– É exatamente assim...
– E quanto aos viajantes estelares: os domadores de cometa, e o astronauta; por que eles podem ir e vir?
– Não podem, são todos contraventores... – foi Sérgio quem respondeu. – O grande Baurets manda derrubar tudo que corte o céu de seu país sem sua permissão. Vários astronautas e aviadores, já foram presos por desobedecerem ao rei. Apenas os domadores de cometas viajam despreocupados, pois é muito difícil capturar a estes.
– Infelizmente, são duros e terríveis, estes tempos – Baptista tomou a palavra. – Muitos cidadãos desaparecem sem motivo. A tirania do rei não vê limites.
– E por que o povo não se rebela?
– Já há uma revolta contra o rei. Mas o tirano Baurets, combate a todos com grande truculência. Muitos rebelados são presos e enforcados em praça pública – foi o que Baptista respondeu.
– E é por isso, que teremos que ter muito cuidado em cruzar a próxima cidadela, para que possamos chegar ao castelo do grande Baurets. A repressão nas cidades é muito maior, e há combates violentos – refletiu Sérgio.
– Sim é verdade. Teremos que ter muito cuidado, Rita. Pode ser muito arriscado cruzar a cidade, ainda mais que a noite não tardará.
Rita ficou a refletir, com tudo aquilo, mas perguntou a eles por fim: – Se quisermos chegar até o castelo do grande Baurets, teremos que atravessar a cidadela? Não há outro caminho?
– Não, não há outro caminho...
– Não, não há...
– Bem, então eu seguirei. Se vocês quiserem voltar, ou se não quiserem me seguir, podem ir... – Rita falou, entristecida.
– Não. Nós iremos contigo...
– Iremos contigo...
– Não estão com medo?
– Não, não há medo...
– Não há medo...
– Então vocês iram me acompanhar e me proteger? – Rita perguntou, toda feliz.
– Claro, te protegeremos sempre...
– Sempre protegeremos...
Dessa forma eles seguiram em frente. Rita tinha agora a certeza de que havia encontrado dois fiéis amigos. Seguiam contentes e saltitantes. Não demorou nada até eles chegarem na cidadela. Já era noite, o silêncio era o que imperava. A claridade do dia já dava lugar à escuridão da noite. Logo avistaram um acendedor de lampiões, que com sua vareta, passava de lamparina em lamparina, ascendendo uma a uma – o que fez Rita, lembrar-se dos quatrocentos e sessenta e dois mil, quinhentos e onze acendedores de lampiões, que deveriam ser necessário, para acender todos os lampiões dos seis continentes de todo o seu planeta, antes do advento da luz elétrica.
Mal havia iniciado a noite e as ruas estavam quase desertas àquela hora. Rita sentiu que a população estava realmente assustada com a situação do país. A cidadela era bem simples, havia apenas casas baixas, um ou outro sobradinho aqui, outro acolá. As fachadas de todas elas, possuíam um aspecto de descaso – aquela era uma cidadela envelhecida.
Cruzaram algumas ruas, contornaram algumas esquinas. Vez por outra, uma pessoa passava apressada, olhando para todos os lados, assustada. Algumas passavam correndo e se escondendo pelos cantos. “Deveriam ser rebelados”, pensou Rita, que ao olhar para Baptista e Sérgio, notou que eles estavam preocupados, – temerosos até – apesar deles terem dito que não estavam com medo, antes de entrarem na cidade.
Rita foi tirada destas suas reflexões, quando notou a imensa lua-cheia que começava a parecer por detrás de um sobrado. Ficou maravilhada. A lua era enorme, nunca em sua vida havia visto a lua tão grande e, aparentemente, tão perto. O que mais espantou a ela, no entanto, era que a lua estava sorrindo (sim sorrindo!). Na face da lua ela viu uma enorme boca que sorria. Rita olhou para seus dois amigos, que aparentavam não terem se espantado com a lua, pois deveriam estar acostumados com aquilo. Já Rita Lee, que nunca vira uma lua tão linda e tão mágica, encontrava-se extasiada. Além do grande sorriso, Rita podia ver dois olhos luminosos na face da lua e (oh! Maravilha das maravilhas!) piscavam para ela.
Rita Lee não se conteve, e eufórica, começou a cantar e a dançar na chuva, sem chuva; a banhar-se no luar, sem água...
“Tomo banho de lua
Fico branca como a neve
Se o luar é meu amigo
Censurar ninguém se atreve
É tão bom sonhar contigo
Oh luar tão candido”!
Assim cantou Rita, dançando nas ruas, chamando seus amigos para bailar.
Contudo, a alegria de Rita foi interrompida, pelo som de coturnos marchando: era a guarda do rei, que deveria estar passando por perto. Em meio a isso, um citadino veio correndo e passou por nossos três aventureiros, gritando:
– Corram, corram! A guarda do rei vem ai! O grande Baurets, declarou guerra contra os rebelados, e irá prender a todos que se encontrarem pelas ruas. Corram!!!
– Declarou guerra!!! – Sérgio Dias exclamou. – Pobre de nosso país!
Nisso, a tropa do rei, contornava uma esquina e logo estaria passando próximo a eles. Estavam em grande número, e o que espantou a Rita, foi o fato da tropa ser constituída de soldadinhos de chumbo, mas todos no tamanho de um homem real. Moviam-se como robôs, eram todos idênticos, suportando com igual imbecilidade os fuzis e suas caras de ódio.
– Vamos, Vamos! Temos que sair daqui, antes que nos vejam! – disse Baptista.
Mas já era tarde, o comandante da tropa já havia avistado a eles. Logo sirenes soaram, e o megafone do comandante assustou as estrelas que caíram e os pássaros que voaram com suas penas arrepiadas, quando ele falou:
– Parados subversores!!! Não fujam! Não há como escapar! Parem em nome do rei!!!
Quem disse que eles pararam. Sérgio agarrou a mão de Rita, e pô-se a correr. Baptista também. Puderam ouvir o som dos coturnos, que agora corriam, no encalço de seus calcanhares. Correram por entre estradas e becos tentando despistar a tropa; mas eles eram numerosos e estavam se espalhando pelas ruas, tentando fechar o cerco a eles. A tropa havia se aproximado perigosamente. Os três adentraram em um beco, iam Sérgio e Rita mais à frente, e Baptista logo atrás. Em certa altura do beco, passaram por três mendigos, encolhidos num canto. De repente, os três mendigos, começaram a tremer e a se metamorfosearem em soldados de chumbo, avançando de imediato, sobre Arnaldo Baptista, que não pode fugir.
– Baptista!!! – ela gritou, querendo voltar.
– Fujam! Não parem, fujam!!! – Baptista gritou a eles, lutando e tentando se livrar dos três soldados.
– Vamos, ele tem razão! Não há nada que possamos fazer. – disse Sérgio, tentando arrastar Rita Lee pela mão.
Antes de seguirem, Rita pode ver ainda um dos soldados de chumbo pisoteando o acordeom de Baptista, enquanto que os outros dois, batiam nele com seus fuzis.
Não pode conter as lágrimas, que encharcaram todo o seu rosto, enquanto fugiam.
(continua...)
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