Mutantes e Seus Cometas no País do Bauretz.

Capítulo V
Domadores de Cometas.
– Sim, sou eu – respondeu o astronauta, pondo-se ereto, e retomando sua habitual apresentação: – Sou astronauta libertado, minha vida me ultrapassa em qualquer rota que eu faça! Sou parceiro do futuro...
Após toda a já costumeira apresentação e encenação do astronauta, Mestre Duprat, voltou a perguntar:
– Mestre Cláudio disse-me que tu precisas de ajuda.
– Preciso sim, meu mestre. É uma grande honra conhecê-lo... É minha nave que precisa de uns ajustes e afinações em seus sintetizadores.
– Não há problema. Conserto tua nave em poucos minutos.
– Bem... queira me fazer à gentileza então... – o astronauta disse a ele, deixando-o à vontade para mexer em sua nave.
O grande mestre Duprat não se fez de rogado. Entrou dentro da nave e sentou-se no banco do piloto. Acionou um dispositivo e logo apareceram umas teclas brancas e pretas – como as de um órgão, ou piano – regulou umas alavancas e pedais, ajustou uns botões de controle, e finalmente começou a testar todo o sistema. Acionou a nave, que desta vez, soltou seu ronco – ronco não, zumbido, pois parecia mais um enxame de abelhas. Mestre Duprat, tratou logo de acionar algumas daquelas teclas pretas e brancas, o que fez surgir uma variada gama de sons e luzes, que ecoavam e iluminavam a nave por todas as partes.
O sorriso do astronauta foi de orelha a orelha, em ver sua tão querida nave intergaláctica funcionar novamente. Mestre Duprat desceu da cabine, triunfante e também feliz:
– É toda tua! Está funcionando como nova.
– Muito obrigado meu mestre. Ganhastes a minha amizade e gratidão – respondeu o astronauta.
– Deixe disso. O que vale mesmo é a cooperação e a ajuda mutua. Pena, que há muitos e muitos planetas no universo, que ainda não perceberam estas maravilhas.
Ouvindo aquilo, Rita – que a tudo observava – teve que concordar com Mestre Duprat: seu planeta mesmo, mal entendia destas coisas.
– Mestre Duprat – Rita quis perguntar, interrompendo a conversa entre ele e o astronauta – Acho fascinante viajar em cometas. Como o senhor aprendeu estas coisas, já que nosso amigo astronauta nos disse que é uma tarefa muito difícil domar aos cometas?
– Sim minha linda e encantadora jovem. É uma tarefa extremamente difícil, pois se doma um cometa não com a força, não com a inteligência ou rapidez; doma-se um cometa, é com o coração. Aprendi esta complicada tarefa, com um pequenino príncipe, de coração puro, habitante de um pequeno asteróide. Foi ele que me ensinou estas coisas.
Rita agradeceu as explicações dele. E após despedir-se de todos, Mestre Duprat, domador de cometas, acionou um dispositivo semelhante ao que Mestre Cláudio usara, e subiu aos céus, a esperar pelo próximo cometa, que não tardou em passar.
Nossos três amigos viajantes ficaram contentes, em ver, resolvidos os problemas da nave do astronauta. Eles haviam se simpatizado muito com aquele homenzinho – que agora parecia uma criança divertindo-se com seu brinquedo, dentro de sua nave.
– Venham! Venham! – o astronauta disse a eles. – Desbravemos planetas e galáxias! Será uma honra viajar com amigos tão bons como vocês. Venham! Ganhemos os céus! Pois o céu azul me dissolve, a equação me propõe, computador me resolve... E correndo, amigos... não tenho mágoa alguma...
Podia-se ver no rosto de Sérgio Dias e de Arnaldo Baptista, que eles desejam viajar pelas estrelas. Porém, no rosto de Rita, estava estampado a duvida: seria realmente maravilhoso viajar pelas estrelas, conhecer novos planetas, novas constelações; contudo, não era isso o que ela desejava, ela queria era voltar para casa, tinha saudade de seu doce lar.
Vendo a hesitação no rosto de Rita, tanto Sérgio, quanto Baptista, resolveram agradecer e recusar o convite do amigo astronauta – que se sentiu triste em ter que se apartar de seus novos amigos. – E com eles também não era diferente. Assim que a nave começou a subir, enchendo tudo ao redor de sons e luzes, Rita sentiu um aperto no coração. Acenou melancólica ao amigo astronauta, que começava a se afastar em sua nave; mas, de agora em diante, sabia ela que assim que avistasse uma estrela cadente no céu, lembrar-se-ia de seu amigo astronauta, com seu jeito estabanado, seus gestos teatrais; e também, lembrar-se-ia sempre dos mestres domadores de cometa.
Despedidas a parte, era preciso continuar a caminhar, e assim seguiram nossos caminhantes.
– Não vejo a hora de chegar em minha casa novamente, – ia dizendo Rita Lee – e rever minha família, sinto tanto a falta deles...
– Sim, a saudade é o mal que nos assola... – Sérgio respondeu, pensando naquela que o deixou.
– Não consigo me recordar bem, de quando sai de casa pela última vez – dizia Rita, tentando esmiuçar dentro de suas recordações. – Lembro-me vagamente de algumas coisas.
– Deixemos o passado de lado! – disse Baptista, tentando animar aos dois amigos. – Um futuro maravilho, é o que nos aguarda à frente. Juntos somos fortes – continuou ele a dizer, metendo-se entre Rita e Sérgio, segurando a eles pelos ombros.
– Sabiam, que tomate maravilha é a última moda?! – Baptista perguntou, todo brincalhão.
– Não, não, esperem... – Rita ainda tentava pôr suas recordações em ordem. – Acho que começo a me recordar de algo... Acho que ... acho que, não sei. Parece-me que... que eu fugi de casa! É isso!!! – completou ela, espantada com sua descoberta.
– E por que tu fugirias de casa? – perguntou Sérgio.
– Não sei. Tudo ainda está meio confuso em minhas recordações. Eu vivia cheia de ilusões... e foi com a mala cheia delas que sai de casa. Não queria mais saber das velhas coisas; acho que é isso, queria deixar tudo para trás, esparramadas pelo chão. Lembro-me apenas, de estar dentro de um automóvel, enorme e potente, sem temer a nada, desafiando a sorte, a morte. Eu vagava por entre pessoas, vultos altos e baixos a me olhar... não sabia para onde ir. Faróis altos e baixos, olhos de mercúrio a me espionar; o sinal vermelho, os carros passando, eu andando, andando, andando...
A essa altura, Rita estava com os olhos cheio de lágrimas, devido a amargura que estava sentindo.
– Acho que rumei sem rumo, durante muito tempo, desde então... – ela completou melancólica.
– Mas agora tu estás conosco! Está entre amigos, e nada mais lhe faltará! – Sérgio tornou dizer.
– Sim eu sei. Mas eu tenho que voltar para casa, pedir perdão a meus pais, redimir-me com eles e dizer a eles o quanto eu os amo...
– Claro minha menina – Baptista assentiu. – Levaremos você até o grande Baurets, e ele terá que deixar você voltar para sua casa. Nem que tenhamos que iniciar nova revolução!!!
Rita agradeceu a eles, e os três seguiram calados.
(continua...)
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