Mutantes e Seus Cometas no País do Baurets.

Capítulo XI
O Jardim Elétrico.
Voltamos a encontrar nossos queridos amigos já no Jardim Elétrico. Cada fugitivo seguiu seu rumo, enquanto que Sérgio e Arnaldo, sentiam-se felizes ao extremo, tanto pela liberdade quanto por reencontrarem com Rita Lee – que por sua vez, encontrava-se tão feliz quanto eles. – Passado o perigo, abraçaram-se muito, cheios de contentamento. Rita não perdeu tempo e apresentou Sir Ronaldo a seus antigos amigos, que ficaram satisfeitos em saber que Rita havia sido bem cuidada e protegida, na ausência de ambos.
Sir Ronaldo disse-lhes logo que retornaria a cidade para ajudar ao valente El Justiciero no que fosse preciso, talvez ele estivesse em apuros; e que também, disse ele, teria ainda que encontra sua Lindonéia Maria. Todos acharam muito sensatas as palavras de Sir Ronaldo, e não tentaram persuadi-lo de sua decisão.
Após a emocionada despedida de Rita àquele grande amigo, nossos recém reunidos aventureiros, seguiram pelo imenso jardim. Tanto Baptista, quanto Sérgio, pouco conheciam daquele local, pois não era costume transitarem por ali; então, podíamos ver nossos três amigos caminharem admirados com tudo que havia naquele imenso e encantado jardim. Variados eram os tipos de animais: viam serpentes amarelas, com suas línguas bipartidas, esgueirando-se por entre a folhagem, tentando se esconder daqueles visitantes indesejáveis; aves brancas que alçavam vôo, espantadas por aquela presença; insetos diversos, espalhavam-se por todos os lados: grandes moscas de olhos vermelhos; besouros e joaninhas coloridas; uma aranha negra que subia por sua teia em direção a uma entrelaçada rede, feita por ela mesma para apanhar suas presas; podiam notar grandes vermes peludos, pequenos vermes amarelos. E isso nem era tudo, as flores e plantas, pareciam perceber também a presença de nossos aventureiros. Em torno das pequenas árvores daquele jardim, havia um tipo de trepadeiras em seus troncos, que pareciam mexerem-se conforme o movimento dos transeuntes. Em certa altura, Rita encantou-se com um belo botão de rosa vermelha, aproximou-se e quis cheirar sua flor. Qual não foi sua surpresa, quando ela aproximou as narinas da flor, e esta, receosa, põe-se a correr de Rita. Logo a seguir, todas as rosas, de diversas cores, que estavam naquele mesmo canteiro, levantaram-se de seus lugares e também correram, tagarelando entre si, assustadas. O mais engraçado, é que aquelas rosas calçavam em seus pés (sim, elas tinham pés!) um par de sapatos de salto-alto, na cor grená, e corriam desajeitadas, sabe-se lá, se pelo salto-alto, ou por possuírem finos caules que sustinham um grande botão de rosas – que por dedução deveriam ser suas cabeças – e assim, avançavam sem graça alguma. Após o susto, Rita deu uma boa gargalhada daquilo tudo. A cada minuto maravilhava-se mais e mais, com aquele encantado país. Ora espantava-se com plantas animadas que possuíam vida e vontade própria, ora se encantava com alguma surpresa. Rita não se conteve de tanto rir quando, em certa altura, Baptista subiu em uma árvore atrás e um tipo de fruta que ela não conhecia; era uma bela fruta, que lembrava um pouco uma romã. Após uma não tão fácil escalada, Baptista alcançou as frutas que estavam em uma parte alta da árvore. Dessa forma, começou a jogar as frutas que apanhava, para Rita e para Sérgio que ficaram nos pés da árvore. Cada fruto arrancado por Baptista, assim que caia, mudava de cor: ora caia uma vermelha, ora uma azul, outrora uma verde. Após colher uma quantidade boa, Baptista começou a descer da árvore. Enquanto isso, Sérgio já metia os dentes em uma das frutas que carregava, e para seu espanto, a cada mordida que dava, sentia uma descarga elétrica em seu corpo. Rita também quis experimentar; como Sérgio havia comido uma de cor amarela, Rita apanhou uma de cor verde, e mordeu delicadamente. Sentiu uma leve e deliciosa onda elétrica percorrer-lhe; era quase como uma cócega. Arnaldo Baptista também não tardou a experimentar do fruto, pegou logo uma de cor negra, que mais lhe chamou a atenção, e assim que abocanhou a fruta, levou um choque tão grande, que seus cabelos eriçaram-se instantaneamente.
E quem disse que ele ligou? Nada! Voltou a dar outra mordida, tão forte, que chegou a dar um estalo, devido à descarga elétrica. Neste meio tempo, Sérgio notou que os cabelos da Rita Lee, começavam a mudar de cores.
– Rita! Veja, teus cabelos! – disse ele, espantado. – Estão mudando de cor!
Rita puxou uma grande mecha de seus cabelos que estavam por debaixo do véu de seu vestido de noiva, e notou realmente, tal mudança.
– O meu cabelo está verde e amarelo! Violeta... e transparente!
– Olhem então para Sérgio! – Baptista falou, gargalhando. – Vossas barbas estão crescendo!
– É verdade! – respondeu Rita. – Está crescendo, e tem a cor azul anil.
Sérgio Dias, admirado, tentou ver sua própria barba. Fez um bico com a boca tentando ver o bigode que também crescia, e constatou que era verdade o que diziam.
– Vejam só! – disse ele, se divertido com aquilo. – É a hora e a vez do cabelo nascer! Se minha caspa é de purpurina, minha barba é azul anil!!!
Baptista, que também se divertia com tudo aquilo, falou, alisando para cima o seu cabelo, que estava todo arrepiado por causa dos choques:
– Hasteei o meu cabelo! Para que o sol fique sabendo das coisas!!!
Todos os três, divertiam-se muito com aquele efeito inusitado que as frutas produziam. Só foram arrancados de suas gargalhadas, quando ouviram latidos de cães, não muito longe de onde estavam. Ficaram apreensivos. Não sabiam se estes cães eram mansos, ou não; e trataram logo de se afastar dali. No entanto, por mais que eles caminhassem no sentido contrário de onde vinham os latidos, parecia que aqueles cães já haviam percebido a presença deles. Sem muito que fazer, decidiram subir em alguma árvore para se protegerem.
E foi o que fizeram. Baptista e Sérgio ajudaram Rita a subir, pois era muito complicado, para ela, subir em uma árvore, com aquele vestido de noiva. Logo após, os dois também subiram sem demora. Assim que os cães se aproximaram, puderam ver que eram dois belos cães. Mas isso nem era tudo, por incrível que pareça, com a proximidade dos cães, nosso três amigos, podiam compreender os latidos dos cães; era como se eles conhecem a linguagem daqueles caninos. E assim conversavam eles, com seus latidos:
– Me lamba o rosto meu querido, lamba! Au, au! E diga que você também me ama! – falou a fêmea.
– Ah, todos estão por fora – o cão respondeu – do que eu sinto por você meu amor. Au, au! Me dê sua pata peluda, vamos passear... sentindo o cheiro da rua, do bosque, do jardim...
– Eu quero ver seu rabo abanando, querido meu! Au, au! Vamos ficar sem coleiras, vamos ter mais cincos lindos cachorrinhos, vamos...
– Sim, ficaremos sempre juntos. Au, au! Até que a morte nos separe, meu amor.
Rita estava encantada com o romântico interlóquio entre aqueles cães. Sentiu-se tocada, mas logo viu que o cachorro macho, passou a farejar o ar.
– Espere, meu amor! Au, au! – disse ele. – Estou farejando o cheiro de intrusos.
– Intrusos em nosso jardim! – a fêmea exclamou, rosnando e arrepiando os pelos das costas.
– Sim, o cheiro esta muito forte! – respondeu o cachorro macho, rosnando e circulando, a farejar. – Au, au! Devem estar aqui por perto ainda...
(continua...)
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