Mutantes e Seus Cometas no País do Baurets.

Capítulo II
Iniciada a viagem.
– Não entendo. O que vamos fazer neste parque de diversões? – perguntou Rita Lee.
– Ora, vamos pegar o trem...
– Mas em um parque de diversões?
– Claro! E você queria pegar um trem fantasma aonde? – respondeu ele, já se pondo a caminhar.
Rita teve que apressar o passo para alcançá-lo. Eles contornaram um lindo carrossel de cavalinhos malhados, brancos, pretos, marrons, alazões e baios. Rita sorriu mansamente, não podendo acreditar que estava seguindo aquele louco bufão. No entanto, não sabia bem ao certo o que fazer, decidiu seguir seu novo amigo. Pensou em perguntar a ele, se não poderiam andar de carrossel: já que seu amigo dizia que o trem fantasma daquele parque podia transportar-lhes, por que não viajarem de cavalo? Mas ela desistiu da idéia, não sabia qual seria a reação do Baptista, vulgo “o bufão”.
Continuou então a segui-lo. Passaram por mais algumas barracas e brinquedos – havia poucas pessoas no parque, fora os funcionários das barracas e dos brinquedos, apenas um ou outro, circulavam pelo parque – até que Rita avistou um Pequeno portal, onde estava escrito: “Trem fantasma”. Ambos seguiram para lá. Neste portal havia um sinistro bilheteiro, que parecia mais morto do que vivo. Um casal de velhos, havia acabado de comprar os ingressos para o trem. Baptista parecia despreocupado, mas Rita ficou assustada.
– São quatrocentos cruzeiros! – disse o bilheteiro.
– Eu não tenho dinheiro – Baptista falou a Rita – Tu terás que comprar os bilhetes...
– Mas eu também não tenho dinheiro! – ela respondeu, confusa – Este vestido de noiva, nem bolsos têm.
– Veja então, nesta tua bolsa que carregas ao braço... – falou o rapaz.
Realmente, havia uma pequena bolsa branca em seus braços, cravejada de pérolas. Rita não entendia com aquela bolsa pode aparecer, subitamente, em seu braço, já que nada carregava anteriormente. Mas sem pensar muito, começou a fuçar no interior da bolsa. Encontrou um maço de notas estranhas, e entregou ao rapaz – que contou o dinheiro e constatou que era a quantia exata para dois bilhetes.
Já com os bilhetes nas mãos, o casal rumou até onde se encontrava o trem fantasma. Acomodaram-se em um dos pequenos vagões descobertos do trem, esperando sua partida. Rita observava a tudo, surpresa; enquanto que Baptista, apenas sorria despreocupado.
– Você vai adorar a viagem – disse ele. – Este trem é muito veloz, possui quatrocentos morcegos de força.
Rita estranhou. Nunca ouvira falar em “morcegos de força”, sabia que havia uma unidade chamada HP, referente a “horse-power” ou cavalo-de-potência, mas nunca ouvira nada em relação a BP (“bat-power”). E assim ela perdia-se nestes seus “bat-pensamentos”, quando o trem começou a mover-se. No inicio, o trem moveu-se lentamente e foi acelerando aos poucos, até que começou a atingir uma velocidade grande. Rita passou a ficar com medo, olhava para Baptista, e ele parecia nem ligar para nada. De repente, o trem fantasma adentrou em um túnel escuro. Rita assustou-se de vez, a agarrou-se ao braço do amigo Baptista. Ele então, protetor e carinhoso, passou seus braços em torna dela, lhe acolhendo. Rita começou a ouvir uns gritos e risadas sinistras, e fechou os olhos de medo. Abraçava a seu amigo Baptista fortemente, tanto era o seu medo. Vez por outra, sentia alguma coisa roçar sua pelo como se fossem fantasmas a lhe tocar. Ela bem sabia que tudo aquilo não devia passar de artimanhas (lençóis suspensos) para causar medo nas pessoas, mesmo assim, não conseguia controlar seu medo. Só voltou a abrir seus olhos, quando percebeu a claridade, pois o trem já havia saído de dentro do túnel. Ficou então encantada com o que viu: gigantescas montanhas verdejantes cercavam o trilho, por onde corria o trem, por todos os lados. Pareciam gigantes generais com suas verdes fardas. O trem permanecia correndo veloz sobre os trilhos, e o vento soprava forte no rosto de nossos passageiros. Logo o trem atingiu uma íngreme ladeira e desceu vertiginosamente. Rita estava tensa, parecia que mal respirava, e dessa forma, voltou a fechar os olhos, temerosa. Notando seu abalo Arnaldo Baptista, deu-lhe um terno beijo em seu rosto, e olhou com doçura para seus olhos quando ela os abriu por um momento, após o beijo. Rita sabia que estava protegida, mas seu temor ainda era grande. De repente, após aquela íngreme ladeira os trilhos adentraram em uma imensidão de água. Assim, que começou a sentir os respingos da água em sua pele, Rita Lee voltou a abrir seus olhos, e ficou maravilhada com aquela cena. O trem deslizada velozmente sobre os trilhos, rente a superfície da água; ela tinha a certeza de que poderia tocar a água se esticasse um de seus braços. Viu ainda vários peixes dourados que saltitavam sobre as águas cristalinas; e no céu, andorinhas e gaivotas, bailavam ágeis em vôos rasantes. Rita deixou-se levar por aquela inusitada paisagem, sem conseguir pensar em mais nada. Baptista olhava para ela, encantado com sua companhia, e permanecia calado, sem dizer o que lhe ia pela cabeça. Vendo-os ali, pareciam mais um lindo casal de namorados (ele e a namorada, ela não pensa em nada, ele pensa em segredo).
Não demorou muito para eles logo verem o portão do final do trajeto: a sessão havia terminado. Nossa querida Rita admirou-se, sem entender, como um simples trenzinho de um parque de diversões, podia viajar tão longe e tão rápido. Olhando agora para ela, nem parecia a mesma que embarcara no outro portão, toda temerosa e assustada. Agora, víamos uma Rita alegre, descontraída; ela havia adorado a viagem – pelo menos a segunda metade da viagem – sentia feliz por aquela experiência. Em agradecimento ela deu um terno beijo na face de seu amigo Baptista, que ficou ruborizado.
Após esta viagem, voltaram a caminhar. Rita ia toda sorridente; observava tudo a sua volta, curiosa em conhecer e descobrir melhor onde estavam.
– Baptista diga-me uma coisa, – disse ela – ainda não sei o nome deste lugar ao qual vim parar, ou melhor onde despertei não sei como.
– Nós nos encontramos no maravilhoso país do Baurets, o grande rei.
– Então isso tudo pertence a um reino, um país? Tanto aqui, quanto onde estávamos antes de pegar o trem, pertencem a um país?
– Sim, sim. Tudo isso é parte do país de Baurets.
– Sei, mas como faço para voltar para minha casa? Você saberia me dizer.
– Não, não saberia. Mas acho que apenas o grande Baurets é que pode te autorizar a sair deste país.
– Bem, então precisamos ir pedir a ele esta tal autorização. Onde podemos encontrá-lo?
– Em seu castelo. No entanto, não sei se ele irá nos receber.
– E por que ele não nos receberia?
– Não sei, ele anda muito doente, mau-humorado e turrão. Nada lhe agrada.
– Só falta você me dizer que ele manda decapitar a todos que aborrecem a ele, e sai gritando a torto e a direito: “Cortem-lhe a cabeça! Cortem-lhe a cabeça!!! – Rita comentou, desconsolada.
– Não, ele não faz isso – respondeu Baptista, enquanto Rita respirava aliviada. – Ele manda é enforcar... (Rita olhou assustada para Baptista).
Eles continuavam caminhando, enquanto conversavam. Baptista, não disse para onde iam, e Rita não quis lhe perguntar nada, apesar de ser desejo seu, saber que rumo tomavam.
Nossos amigos caminhantes, acabaram encontrando um outro rapaz no caminho que seguiam – trajado um pouco semelhante ao bufão Baptista. Este outro rapaz, vestia uma calça também justa e curta, na cor branca com detalhes bordados em preto; seu casaco era muito parecido com os casacos dos toureiros, também era branco e com os mesmos detalhes bordados em preto; seu pescoço era ornado por uma gravata de um vermelho vivo, presa com uma abotoadura de prata. Ele estava sentado, cabisbaixo, e também portava um estranho instrumento de cordas, onde podia-se ver diversas tarraxas ao longo do braço do instrumento, para a afinação do grande número de cortas. Seus olhos estavam tristes e marejados.
Vendo o estado daquele rapaz, Baptista tratou de acionar seu instrumento e a entoar uma canção, para consolar a ele:
“Há sempre um tempo no tempo
Que o corpo do homem apodrece
Sua alma cansada penada se afunda no chão
E o bruxo do luxo baixado o capucho
Chorando no nicho capacho do lixo
Caprichos não mais voltarão...”
Rita, gostou da canção de Baptista, resolveu arriscar alguns versos improvisados, para acompanhá-lo:
“...Já houve um tempo em que o tempo parou de passar
E o tal do homo sapiens não soube disso aproveitar
Chorando, sorrindo, falando em calar
Pensando em pensar quando o tempo parar de passar...”
E juntos, Arnaldo Baptista e Rita Lee, cantaram a estrofe final, ajoelhados em frente ao triste rapaz:
“Mas se entre lágrimas você se achar e pensar
Que está a chorar...
Este é o tempo em que o tempo é...”
Este rapaz, ficou encantado com a linda voz de Rita.
– Que linda voz tu possuis! – disse ele, com os olhos brilhando, deixando sua melancolia um pouco de lado.
– Realmente, – completou Baptista – não sabia que tinhas uma voz tão linda.
Rita ficou encabulada, e como não sabia o que dizer, tentou desconversar, mudando o rumo da conversa:
– Mas me diga, por que você está assim tão triste? – ela perguntou ao rapaz.
Antes mesmo que o rapaz, pudesse responder. Foram interrompidos por uma grande algazarra. Rita voltou seus olhos para o vale que se estendia não muito longe, e viu (estupefata!) um grande moinho de vento correndo (isso mesmo! correndo!). Este estranho moinho, possuía braços e pernas, e também olhos e boca. O Moinho corria desajeitado, segurava o beiral do telhado que lhe cobria como se fosse a barra de uma saia; estava com os olhos arregalados e com a língua de fora, corria gritando: “Socorro, me ajudem! Socorro, me ajudem!”
Logo atrás, vinha um sucinto cavaleiro: magro, com um longo bigode e cavanhaque; trajava uma armadura, e na cabeça, levava um pinico. Empunhava ainda uma longa lança e açoitava um magro cavalo, no encalço daquele estranho moinho de vento. Após alguns segundos, atrás destes, veio um roliço cavaleiro, montado num asno, esbaforido.
E foi assim que eles passaram, fazendo estardalhaço.
Voltada a calmaria, Rita tornou a interpelar o triste rapaz, sobre sua aflição. Ele então, voltou a baixar os olhos, retornando a sua melancolia anterior. Dedilhou seu instrumento, tocando uma música soturna e triste – tão soturna e triste, quanto a ele próprio – e ficou olhando o horizonte ao longe.
– Como se chamas caríssimo amigo? – perguntou-lhe Baptista.
– Chamo-me Sérgio Dias. Oh! E como sofro!!!
(continua...)
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